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Restaurante Blueberry Hill, St. Louis, no estado do Missouri. O dono, Joe Edwards, atende à ligação do Correio e admite: ;Hoje, estou muito emotivo, mas muito obrigado por ligar, pois ele gostava muito de tocar no Brasil;. Começa a se recordar da amizade com Chuck Berry, a lenda do rock and roll que se tornou imortal às 13h26 de sábado (15h26 em Brasília), ao dar o último suspiro, aos 90 anos. ;Tornar-me o melhor amigo de Chuck Berry foi uma das coisas mais imprevisíveis. Eu o encontrei pela primeira vez em meados da década de 1960, após um show. Eu apenas disse: ;Oh, que concerto ótimo!’. No começo dos anos 1980, nos tornamos amigos. Eu me considero muito sortudo por ter aproveitado da companhia dele ao longo desses anos, e poder partilhar de seu humor, de seu talento e de sua amizade;, disse o empresário. Na tarde de sábado, Charles Berry Jr., filho de Chuck, telefonou para Joe para lhe dar a notícia da morte.
;Chuck se apresentou por 209 meses consecutivos no Blueberry Hill. As pessoas vinham de todos os lugares, do Japão, do Brasil e do Reino Unido, para vê-lo de forma intimista;, conta Edwards, que possui a maior coleção permanente do mundo de itens alusivos ao músico. ;Tenho desde a sua guitarra até os pôsteres originais e as marcas de suas mãos. O legado que ele deixa é notável, pois foi o primeiro a fazer parte do Hall da Fama do Rock e o primeiro grande poeta do rock a ser premiado. Também foi o pioneiro das coreografias no palco, ao tocar a guitarra por sobre a cabeça e entre as pernas e ao fazer o chamado ;passo de pato;.;
Edwards revela que Chuck era ;uma pessoa maravilhosa;. ;Além de ser um grande cantor, compositor e guitarrista, era ótimo comediante. Tinha um senso de humor maravilhoso;, lembra. O empresário gostava de acompanhar o amigo a restaurantes e nas visitas ao estúdio Chess Records, em Chicago, onde Chuck gravou pela primeira vez. ;Suas músicas fizeram muito. Elas uniram crianças negras e brancas após a Segunda Guerra Mundial e tiveram grande impacto nos Estados Unidos e no leste da Europa. Na Hungria, os jovens ouviam suas músicas em rádios de transistores e formavam suas próprias bandas.;
Memorial
Desde a tarde de sábado, o Blueberry Hill se tornou local de peregrinação de fãs. As pessoas têm colocado flores sobre o seu nome na estrela da calçada da fama. Do outro lado da rua, uma estátua de Chuck Berry, com 2,4m de altura, também se tornou ponto para fotografias e apresentações de canções do cantor. Edwards afirma que o músico finalizava um novo álbum, intitulado Chuck. ;As primeiras músicas de Chuck em 38 anos seriam lançadas neste verão, provavelmente em junho. As músicas são espetaculares. O primeiro single seria divulgado na próxima semana.;
Assim que soube da morte de Chuck, o leiloeiro David Lee Gaule, 44, viajou 220km de Cincinnatti a St. Louis para homenagear o ídolo e depositar flores sob a estátua. ;Eu já fui a oito shows dele. O primeiro foi quando eu tinha oito anos e estava acompanhado de meus pais. Éramos fãs. Eu o vi na Duck Room (uma das salas do Blueberry Hill) por sete vezes;, relata à reportagem. Segundo David, Chuck tinha o costume de falar com as pessoas após a apresentação. ;Ele era muito gentil e profissional. Se o contrato estipulava que o show terminaria às 22h, ele levava a guitarra até o camarim exatamente nesse horário. Minutos depois, liberava acesso aos fãs. Chuck derrubou muitas barreiras, ao criar um novo som para inspirar gerações.;
Arquiteto do rock, lenda, rei da guitarra, mágico. Sobravam elogios, ontem, de anônimos e famosos (leia ao lado), em homenagens ao músico, que influenciou bandas como The Beatles e The Rolling Stones e deixou clássicos, como Johnny B. Goode e Sweet Little Sixteen (1958), Roll over Beethoven (1956), Rock and roll music e School day (1957), Maybellene (1955), You can never tell (1964) e My Ding-A-Ling (1972). O beatle John Lennon, morto em 1980, pronunciou uma poderosa frase sobre Chuck. ;Se você tentar dar ao rock and roll outro nome, você pode chamá-lo de Chuck Berry.;
Até o fechamento desta edição, mais de 4.700 pessoas tinham deixado mensagens no perfil de Chuck, no Facebook, e 14 mil compartilharam a nota sobre a morte. ;Ainda que sua saúde tenha piorado, ele passou os últimos dias em casa, cercado do amor da família e dos amigos;, afirma o texto. A data e os detalhes sobre o funeral não foram divulgados.