A administração Trump voltou a romper com anos de diplomacia sobre o conflito israelense, com a reunião extraordinária, nesta quinta-feira (16/3), entre um enviado do presidente americano e os representantes dos colonos israelenses.
Jason Greenblatt, representante especial de Donald Trump para as negociações internacionais, se reuniu em Jerusalém com Oded Revivi e Yossi Dagan, representantes do Conselho Yesha, principal organização dos colonos israelenses nos territórios palestinos ocupados, indicaram esta organização e a embaixada dos Estados Unidos.
Um porta-voz do Yesha declarou à AFP que, para a organização, trata-se do primeiro encontro oficial deste nível com um enviado de uma administração americana.
"Representantes do Yesha se reuniram com John Kerry [chefe da diplomacia do governo Obama], mas não tivemos uma reunião oficial como esta", disse.
"É, sem dúvidas, uma grande mudança de política", acrescentou sem revelar sua identidade.
A comunidade internacional evita manter contatos oficiais com os representantes dos colonos. O chefe da diplomacia britânica, Boris Johnson, negou na semana passada se encontrar com os enviados do Yesha, enquanto se reuniu com os membros da organização israelense contra a colonização, Paz Agora.
Grande parte da comunidade internacional considera a colonização o principal obstáculo para a paz entre israelenses e palestinos. A colonização, ou seja, a construção de residências civis israelenses em território ocupado, é ilegal segundo o Direito Internacional.
A construção de colônias, realizadas com o apoio de todos os governos israelenses desde 1967, limita-se aos territórios em que deveria existir um Estado palestino, comprometendo sua viabilidade.
Terreno de acordos
Esta reunião com os representantes dos colonos surge como mais um ponto da ruptura anunciada pelo governo Trump.
Depois das declarações a favor de Israel durante sua campanha e a promessa de transferir a embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém, Trump semeou a tensão em 15 de fevereiro quando se distanciou da solução de dois Estados.
A criação de um Estado palestino em coexistência com Israel é, para a comunidade internacional, a solução ideal.
A Casa Branca demorou duas semanas para apaziguar publicamente os diversos anúncios israelenses de colonização após a nomeação de Trump. Naquela ocasião, assinalou que Israel não possuía um "passe livre" para os assentamentos.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu indicou nesta quinta-feira (16) que buscava um acordo comum com Washington na construção de colônias, objeto de discordâncias com a administração de Obama.
O governo israelense, considerado como o mais à direita da História e condescendente com os defensores da colonização, procura criar as condições adequadas para continuar os assentamentos sem ganhar a inimizade do governo Trump.
Com a visita de Greenblatt, a administração Trump dá seus primeiros passos no terreno do conflito israelense-palestino, em um momento em que as perspectivas de uma solução estão mais nebulosas do que nunca.
O Departamento de Estado indicou que a viagem do enviado americano era, antes de tudo, uma "viagem de orientação" destinada a ouvir as diferentes partes e explorar os meios para reanimar um enfraquecido processo de paz.
Sua reunião com os representantes dos colonos responde à vontade de "consultar forças políticas de todo tipo", disse o especialista israelense nas relações com os Estados Unidos, Eytan Gilboa. "É algo bom. Se isso dependesse de mim, poderia, inclusive, se encontrar com o Hamas", movimento islâmico e grande inimigo de Israel.
Greenblatt se encontrou com Netanyahu duas vezes na segunda-feira (13), com o presidente da Autoridade Palestina Mahmoud Abbas na terça-feira, e com diferentes membros das forças de segurança e da sociedade civil de ambos os lados.