A chanceler Angela Merkel prometeu nesta quinta-feira trabalhar em uma aproximação com a Turquia, em plena crise diplomática, mas insistiu no respeito dos valores democráticos e denunciou as acusações turcas de prática de nazismo contra a Alemanha.
"Embora agora a situação seja difícil, não nos beneficia geopoliticamente, em matéria de política externa e de segurança, deixar a Turquia, um parceiro dentro da Otan, se afastar ainda mais", disse Merkel aos deputados alemães.
Após uma semana de tensões diplomáticas causadas %u200B%u200Bpelo cancelamento de comícios eleitorais na Alemanha de partidários do presidente Recep Tayyip Erdogan, a chanceler insistiu novamente nos valores democráticos de seu país.
A Turquia não aceita as críticas alemãs sobre os expurgos contra a oposição e a imprensa após o golpe de Estado frustrado de julho.
Merkel lembrou que as negociações com a Turquia são realizadas "com base em nossos valores, ou seja, liberdade de opinião, liberdade de imprensa, liberdade de expressão e liberdade de reunião".
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Um dia antes, seu chefe da diplomacia, Sigmar Gabriel, invocou, por sua parte, a amizade entre os dois países - a diáspora turca na Alemanha conta com três milhões de pessoas - para resolver suas diferenças, um pedido bem recebido por Ancara, que considera Berlim responsável pelas atuais desavenças.
Ancara considera que o cancelamento sucessivo de manifestações na Alemanha - onde 1,4 milhão de eleitores turcos vivem - é uma tentativa de favorecer o "Não".
O governo alemão, por sua vez, negou qualquer tentativa de ingerência e rejeitou a responsabilidade no cancelamento destes atos que se devem, segundo Berlim, a decisões das autoridades locais que alegam motivos de segurança ou de logística.
Estes atos eleitorais deveriam contar com discursos de ministros turcos para defender o "sim" no referendo.
Mas este caso está longe de ser a única fonte de tensão entre Ancara e Berlim. A Alemanha denunciou com veemência a prisão na semana passada do correspondente germano-turco do jornal Die Welt, Deniz Yücel, acusado de "propaganda terrorista".
Ancara critica, por sua vez, a Alemanha por abrigar "terroristas", sejam eles simpatizantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), organização terrorista, de acordo com Turquia, União Europeia e Estados Unidos, ou supostos golpistas envolvidos no golpe de julho frustrado.
Berlim registrou nos últimos meses milhares de pedidos de asilo de cidadãos turcos, em particular dezenas de diplomatas e militares.
- Autocracia -
Merkel voltou à carga ao classificar de "tristes, deprimentes e fora de lugar " as declarações do presidente turco, acusando Berlim de recorrer a "práticas nazistas" por não autorizar os comícios turcos.
Por seu lado, o presidente do Parlamento alemão, Norbert Lammert foi, inclusive, mais longe, ao falar de "deriva autocrática".
Segundo analistas, os dirigentes turcos buscam, através do conflito com a Alemanha, apelar para o sentimento nacionalista e o ressentimento em relação à Europa para ganhar pontos, em um momento em que o resultado da consulta é incerto.
Além disso, o governo alemão teme que Ancara atice ainda mais na Alemanha as tensões entre opositores e partidários de Erdogan e entre turcos e curdos, conflitos que dividiriam a Turquia.
Em outras parte da Europa, a ambição de Ancara em fazer campanha pelo "sim" é mal vista.
A Turquia é um sócio imprescindível para a Alemanha e a União Europeia, especialmente para frear a afluência de refugiados na Europa.