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Ares de liberdade na primeira Comic Con da Arábia Saudita

A celebração deste salão é parte de uma iniciativa do governo para oferecer mais opções de entretenimento para os jovens do país, onde metade da população tem menos de 25 anos

O primeiro festival de Comic Con da Arábia Saudita revela com seus games, séries e pop art ares de liberdade em um reino ultraconservador, onde o álcool, o cinema e o teatro são proibidos.

"Aqui somos livres, somos nós mesmos", afirma Ahmed, de 18 anos, um dos milhares de visitantes que compareceram na quinta-feira a um centro de entretenimento na cidade de Jidá, no Mar Vermelho, onde o evento é realizado.

Ele usa a máscara de cabeça de cavalo, que representa um personagem do seu canal no YouTube, uma das muitas plataformas populares da internet onde os sauditas passam grande parte do seu tempo para escapar das restrições de uma sociedade rígida.
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A celebração deste salão é parte de uma iniciativa do governo para oferecer mais opções de entretenimento para os jovens do país, onde metade da população tem menos de 25 anos, apesar da resistência dos círculos religiosos conservadores.

No mês passado, a maior autoridade religiosa do país se rebelou contra a possível abertura de cinemas e a realização de concertos, afirmando que estes seriam fontes de "depravação".

Neste país regido por uma visão rigorista do Islã, a segregação de sexos é a regra. Os restaurantes têm áreas separadas para homens solteiros e para as famílias, inclusive em uma cidade como Jidá, considerada mais liberal que a capital, Riade.

"Arábia Saudita está se abrindo"

Alguns rapazes estavam fantasiados de seus personagens favoritos de anime japonês, mas a maioria se vestia à maneira ocidental. O thobe, a longa túnica branca tradicional da Arábia Saudita, era uma peça rara entre os presentes.

Homem de Ferro, Capitão América e outros super-heróis do universo da editora Marvel, circulavam pelos corredores.

A Autoridade Saudita de Entretenimento disse que apóia o evento, organizado pela empresa saudita Time Entertainment, por causa do "forte apelo familiar" da Comic Con.

Este órgão do governo prevê uma afluência de 25.000 visitantes em três dias, mais do que a dos espetáculos que organizou no ano passado.

O desejo das autoridades de ampliar a oferta de ócio no reino é um dos objetivos do "Vision 2030", um ambicioso programa de reformas econômicas e sociais promovido pelo príncipe Mohammed bin Salman, de 31 anos.

"A Arábia Saudita está se abrindo", disse com um sorriso Mwadah Abdul Aziz, uma jovem de 23 anos que vende artigos com desenhos de estilo japonês em um estande no evento.

O fenômeno Comic Con começou em 1970 nos Estados Unidos como uma convenção onde una dezena de "geeks" trocavam revistas de super-heróis. Hoje, reúne mais de 100.000 pessoas.

Os salões deste tipo cresceram e se espalharam pelo mundo, inclusive em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, país vizinho da Arábia Saudita.