Agência France-Presse
postado em 17/02/2017 09:46
O corpo do meio-irmão do dirigente norte-coreano Kim Jong-un, assassinado na Malásia, não deixará o país se a família não fornecer mostras de DNA, advertiu o governo de Kuala Lumpur, apesar do pedido de restituição de Pyongyang.
Médicos legistas malaios tentam esclarecer o homicídio de Kim Jong-nam cometido na segunda-feira, que Seul atribui a agentes norte-coreanos.
Os especialistas analisavam nesta sexta-feira mostras retiradas do cadáver para poder determinar a substância tóxica que, ao que parece, foi lançada contra o rosto de Kim Jong-nam quando pretendia embarcar em um avião no aeroporto internacional de Kuala Lumpur.
Diplomatas norte-coreanos discordaram da autópsia, de acordo com autoridades malaias, mas Kuala Lumpur permaneceu firme e advertiu que o corpo não será restituído a Pyongyang antes da conclusão do processo.
"Até o momento, nenhum membro da família, ou pessoa próxima, veio para identificar, ou reclamar o corpo. Precisamos de mostras de DNA de um membro da família para estabelecer o perfil da pessoa falecida", declarou Abdul Samah Mat, chefe de polícia do estado de Selangor, onde fica o aeroporto.
"A Coreia do Norte fez um pedido para a restituição do corpo, mas antes de entregá-lo precisamos identificar o corpo", acrescentou.
Os funcionários do laboratório que examinam o sangue e pedaços da roupa da vítima "farão a análise o mais rápido possível", afirmou Cornelia Charito Siricord, do departamento de Química no ministério malaio das Ciências.
A polícia interroga duas mulheres suspeitas, uma com passaporte vietnamita e outra com passaporte indonésio, assim como o namorado desta última, um malaio.
Kim Jong-nam, 45 anos, foi atacado na segunda-feira por duas mulheres que supostamente jogaram um líquido em seu rosto quando estava no aeroporto, onde pretendia embarcar para Macau, uma região administrativa da China onde viveu durante anos exilado. Ele faleceu pouco depois, quando era levado para o hospital.
Uma mulher com uma camisa ;LOL;
A Coreia do Sul acusa o vizinho do Norte como responsável pelo crime e cita uma "ordem permanente" do ditador Kim Jong-un para eliminar seu meio-irmão e uma tentativa frustrada de assassinato em 2012, depois que Kim Jong-nam criticou o regime mais fechado do mundo.
Pyongyang não emitiu nenhuma declaração sobre o homicídio, mas diplomatas norte-coreanos expressaram contrariedade à realização da autópsia.
Correspondentes da AFP em Pyongyang constataram que as celebrações de quinta-feira por ocasião do aniversário de nascimento de Kim Jong-il, o falecido pai do atual dirigente e do homem assassinado na Malásia, aconteceram sem qualquer referência à morte de Kim Jong-nam.
A polícia malaia prendeu na quarta-feira uma mulher de 28 anos, com passaporte vietnamita, sob a identidade de Doan Thi Huong. De acordo com a imprensa local, as imagens das câmeras de segurança mostram que a suspeita vestia uma camisa branca com as letras "LOL".
Os investigadores prenderam em seguida Muhamad Farid Bin Jalaluddin, um malaio de 26 anos. Isto levou a polícia a deter a namorada deste último, Siti Aishah, uma indonésia de 25 anos, a segunda suspeita.
Jacarta confirmou que a mulher é uma cidadã indonésia e que diplomatas forneceram ajuda consular.
Kim Jong-nam, que chegou a ser considerado por algum tempo o sucessor do regime, caiu em desgraça em 2001, quando protagonizou um incidente constrangedor par ao regime comunista. Ele foi detido no aeroporto de Tóquio com um passaporte falso da República Dominicana. Na ocasião, afirmou que pretendia visitar a Disneyland.
Desde então viveu no exílio com sua família em Macau, Cingapura ou na China. Viajou diversas vezes para Bangcoc, Moscou e alguns países da Europa.