Ao reconhecer o princípio de uma só China durante uma conversa telefônica com seu colega chinês Xi Jinping, o presidente americano Donald Trump apaziguou uma crise iniciada após receber uma ligação da presidente de Taiwan.
O que é o princípio de uma só China?
Taiwan está, de fato, separado da China desde 1949 e do fim da guerra civil chinesa, quando as tropas nacionalistas se refugiaram na ilha, enquanto os comunistas de Mao Tsé-Tung assumiam o poder em Pequim.
À época, a maioria dos países ocidentais reconheciam o governo de Taipei como representante legal da "República da China".
Três décadas depois, em 1979, os Estados Unidos passaram a reconhecer a China comunista e romperam relações diplomáticas com Taiwan.
Assim como os demais parceiros de Pequim, os americanos passaram a respeitar o princípio da política de "uma só China", que proíbe quaisquer relações diplomáticas com o governo de Taiwan.
No entanto, a atitude dos Estados Unidos é ambígua: Washington respeita seu compromisso de garantir a segurança de Taiwan e continua a fornecer equipamento militar, em detrimento de Pequim que não descarta o uso da força para restaurar sua soberania sobre a ilha, que considera como um dos seus províncias.
O que Donald Trump fez?
Desde 1979, nenhum presidente americano havia falado com um líder de Taiwan. Até o último 2 de dezembro, quando apenas um mês depois de sua eleição, Donald Trump concordou em conversar por telefone com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen.
Dois dias mais tarde, longe de aliviar as tensões, Trump escreveu dois tuítes nos quais acusou Pequim de "desvalorizar sua moeda", "taxar demais" as importações americanas e "construir um grande complexo militar" no Mar da China Meridional.
Então, em 11 de dezembro, ameaçou na televisão não reconhecer o princípio de uma só China, a menos que os Estados Unidos fechassem "um acordo com a China para obter vantagens, inclusive no comércio."
Como a China reagiu?
Em 3 de dezembro, Pequim protestou "solenemente" pelo ataque de Trump contra o princípio de uma só China. Em 12 de dezembro, o Governo chinês lançou um primeiro aviso sobre uma possível deterioração nas relações com Washington.
Enquanto a reação oficial foi contida, a imprensa de Pequim pediu que o governo fortalecesse seu arsenal militar, especialmente nuclear, "para forçar os Estados Unidos a respeitar a China".
Desde a posse do novo presidente dos Estados Unidos, em 20 de janeiro, a nova administração e o regime chinês não mantiveram relações, de acordo com fontes diplomáticas em Pequim.
Segundo um artigo do New York Times publicado pouco antes do anúncio do telefonema entre os dois presidentes, Xi havia proibido qualquer contato de alto nível com Washington, enquanto o seu colega não reconhecesse o princípio de uma só China.
Tudo está resolvido entre Pequim e Washington?
Não. As autoridades chinesas estão especialmente atentos à política orçamentária de Trump, que durante sua campanha ameaçou aumentar em 45% a taxa alfandegária de importação dos produtos chineses, após acusar Pequim de "roubar" milhões de empregos dos Estados Unidos.
Além de Taiwan, os dois países se enfrentam em diversas questões no plano estratégico, entre as aspirações de Pequim no mar da China, o programa nuclear norte-coreano, ou a aliança entre Washington e Japão, grande rival regional do gigante asiático.
O fato de Trump ter nomeado como embaixador em Pequim Terry Branstad, um conhecido de Xi Jinping, poderia, talvez, melhorar as relações.