Milhares de iranianos saíram às ruas nesta sexta-feira (10/2) aos gritos de "Morte aos Estados Unidos" para celebrar o 38; aniversário da revolução islâmica, uma oportunidade para denunciar as "ameaças" contra o país representadas pela política do presidente Donald Trump.
"É necessário falar com o povo iraniano com respeito. O povo iraniano fará com que se arrependa qualquer um que use linguagem ameaçadora", disse o presidente Hassan Rohani para milhares de pessoas reunidas na praça Azadi de Teerã.
Em outras cidades do país também aconteceram manifestações com milhões de pessoas, segundo as imagens exibidas pela televisão pública Irib.
"As manifestações com milhões de iranianos mostram a potência do Irã islâmico", disse Rohani, uma mobilização em resposta às "mentiras dos novos dirigentes da Casa Branca".
Os manifestantes exibiam cartazes com frases como "Morte aos Estados Unidos", pisavam em bandeiras americanas. Também agitavam fotos de Trump, do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e da primeira-ministra britânica Theresa May com o lema "Os iranianos não temem as ameaças".
Eles também exibiam fotos do aiatolá Ali Khamenei, o guia supremo do país, que na terça-feira pediu aos iranianos que respondessem às ameaças do presidente Trump com as manifestações desta sexta-feira.
O país comemora o aniversário da vitória da revolução islâmica que em 1979 derrubou o xá do Irã, aliado dos Estados Unidos.
Mensagem a Trump
Irã e Estados Unidos não têm relações diplomáticas desde 1980, pouco depois da revolução e da invasão da embaixada americana por estudantes islâmicos.
"A presença da população é uma mensagem a Trump: se cometer um erro, o povo fará com que lamente", disse o deputado reformista Mostapha Kavakebian, que estava na manifestação de Teerã.
Ghassem Soleimani, chefe de operações externas da Guarda Revolucionária, a tropa de elite iraniana, também estava entre a multidão.
Alguns manifestantes tentaram agradecer aos americanos que protestaram contra o decreto migratório de Trump, que proíbe a entrada nos Estados Unidos de sete países de maioria muçulmana, incluindo o Irã.
[SAIBAMAIS]No momento o decreto está bloqueado pela justiça, mas Trump já prometeu uma batalha nos tribunais para obter sua aplicação.
"Abaixo o regime, vida longa ao povo americano", afirmava um cartaz.
O ex-presidente Mohammad Khatami (1997-2005), líder da ala reformista e submetido a restrições pelo atual governo, pediu recentemente aos iranianos que participem nas manifestações "para neutralizar os complôs".
"Diante de qualquer ameaça contra o regime, a integridade territorial e os interesses nacionais não hesitaremos em nenhum momento a resistir", disse, antes de fazer um apelo à "reconciliação nacional".
Desde a chegada de Trump à Casa Branca em 20 de janeiro, a tensão aumentou entre Estados Unidos e Irã.
O anúncio na semana passada de novas sanções americanas pelo lançamento de um míssil balístico iraniano provocou uma reação imediata de Teerã, que anunciou represálias contra "indivíduos ou empresas americanas" que apoiem grupos "terroristas".
O Irã já aplica a reciprocidade nas sanções após o decreto migratório de Trump, chamado de medida "ofensiva" e "vergonhosa".
O novo presidente americano já fez muitas críticas ao Irã no Twitter e acusou o país de "brincar com o fogo".
Em uma tentativa de acalmar a tensão, o presidente Rohani disse na quinta-feira que a potência militar do Irã é "apenas defensiva".
Mas o país não pretende renunciar aos testes de mísseis para o transporte de armas "convencionais" e não nucleares para defender seu território.
O presidente Trump criticou durante a campanha o acordo sobre o programa nuclear assinado pelo Irã e os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França e China), além da Alemanha.