O governo romeno prosseguia nesta segunda-feira (6/2) no sétimo dia de forte pressão com novas manifestações celebradas à noite, um dia depois da mobilização recorde de meio milhão de pessoas, muitas das quais exigiram a renúncia do Executivo.
Embora o primeiro ministro tenha revogado o decreto que provocou os protestos, um texto que descriminalizava crimes de corrupção, os manifestantes não pararam com a mobilização iniciada há sete dias neste país de 20 milhões de habitantes.
[SAIBAMAIS]Milhares de pessoas foram às ruas pedir a renúncia do governo. O premiê social-democrata (PSD), Sorin Grindeanu, pediu calma à população e disse ter entendido a mensagem dos manifestantes.
Na noite de domingo, pelo menos 500 mil pessoas, segundo a imprensa romena, foram às ruas de Bucareste e de 50 cidades da Romênia, gritando palavras como "demissão" e "ladrões".
O governo comandado por Grindeanu "não tem nenhum motivo para se demitir", assegurou o líder do governista Partido Social-Democrata (PSD) Liviu Dragnea, após uma reunião dos deputados da formação.
Mas, nas redes sociais, continua a mobilização popular, a maior desde a queda do regime comunista, no fim de 1989.
"Somos milhões de romenos que compartilham os mesmos temores e o mesmo desejo de não deixar que políticos corruptos tomem conta da Romênia", escreveu a página #Resist.
O Executivo social-democrata tentou apagar o incêndio no domingo, ao suspender o decreto de urgência que teria permitido a vários políticos se livrar da Justiça.
O ministro da Justiça, Florin Iordache, criticado por ter adotado essa revisão do código penal mediante decreto, anunciou que o Parlamento estudará em breve um projeto de lei que levará em conta as críticas populares.
Mas este anúncio não convenceu os manifestantes. "Querem voltar com um novo texto no Parlamento. Continuaremos atentos para que não nos enganem", disse Daniel, de 35 anos.
O governo cerra fileiras
Entre outras coisas, o decreto aprovado pelo governo na terça-feira passada estabelecia um mínimo de 44.000 euros para poder começar a perseguir os crimes financeiros e reduzia as penas de prisão por corrupção.
Seus críticos temiam que o texto atestasse um duro golpe à luta contra a corrupção, que se intensificou nos últimos anos no país.
O analista político Cristian Tudor Popescu compara o governo de Grindeanu com "um ladrão que espera ser perdoado se devolver o que roubou", uma atitude que não porá fim às manifestações, afirmou.
"Os manifestantes venceram a primeira batalha. A guerra passa agora pelo Parlamento e pelo Tribunal Constitucional", destacou o jornal romeno Adevarul na capa.
Apesar da retirada do decreto, o Constitucional deverá se pronunciar sobre vários recursos apresentados na semana passada contra a lei.
Grindeanu, de 43 anos, que está no cargo há um mês, descartou apresentar sua demissão, ao assegurar que "tinha uma responsabilidade para com os romenos" que votaram maciçamente por seu partido nas legislativas de 11 de dezembro.
Mil simpatizantes de seu partido protestaram em frente ao palácio presidencial com o chefe de Estado, Klaus Iohannis (centro-direita), a quem acusam de ter "fomentado" os protestos contra seu primeiro-ministro.
O presidente, abertamente contrário ao governo, pronunciará na terça-feira um discurso no Parlamento, no qual se espera que critique qualquer tentativa de obstaculizar a luta anticorrupção.
Apesar das críticas dentro do PSD e da demissão de um ministro na semana passada, a maioria de centro-esquerda cerra fileiras, e a moção de censura que a oposição apresentará na quarta-feira no Parlamento parece fadada ao fracasso.
Dragnea, que tem fala de ser o "primeiro-ministro na sombra", endureceu o tom no domingo, ao afirmar que havia "um plano para derrubar o governo" e ao pedir que se investigasse "quem financia" os manifestantes.