O ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon anunciou nesta quarta-feira (1/2) que não será candidato na próxima eleição presidencial da Coreia do Sul, depois que se mostrou incapaz de mudar os hábitos de diplomata e atuar como candidato confiável, com conhecimento da realidade dos eleitores.
O diplomata, de 72 anos, retornou em janeiro ao país depois de passar oito anos à frente das Nações Unidas. Durante meses manteve a incerteza sobre seu futuro, enquanto analistas apontavam que seria candidato à presidência.
"Vou me aposentar da política. Sinto muito por decepcionar muitas pessoas", afirmou em uma entrevista coletiva.
Apesar de nunca ter anunciado que seria candidato, Ban participou em vários atos públicos que pareciam antecipar uma candidatura pelo partido conservador Saenuri, o mesmo da presidenta destituída Park Geun-Hye, ou por uma ala conservadora dissidente.
A Coreia do Sul passa por uma grave crise política há vários meses, marcada pela destituição no início de dezembro da presidente Park, acusada de conluio com Choi Soon-Sil, que era sua melhor amiga e confidente e está sendo julgada por ter usado sua influência para obter milhões de dólares de grandes empresas do país.
Responsável pelo próprio fracasso
Ban não conseguiu garantir o apoio do partido e sua imagem foi abalada por acusações de corrupção contra algumas pessoas próximas. A imprensa o descreveu como alguém totalmente desconectado da realidade dos sul-coreanos.
"Fiquei decepcionado com o espírito corporatista e o egoísmo de alguns políticos. Cheguei à conclusão de que não serviria para nada trabalhar com eles", disse.
"Meu patriotismo e minhas aspirações foram objeto de calúnias que se assemelham a um massacre de personalidade", criticou nesta quarta-feira, antes de inclinar-se em sinal de respeito, recolher documentos e sair da sala.
Para alguns analistas, Ban é o grande responsável por seu fracasso, incapaz de deixar de lado a eminente função internacional e conectar-se com a realidade de seus compatriotas.
Ele foi visto tentando introduzir duas cédulas em uma máquina automática de passagens, entre outros momentos que não agradaram os compatriotas.
Foi alvo de muito sarcasmo quando testou um pulverizador em uma fazenda, vestido da cabeça aos pés com uma proteção especial quando ao seu redor ninguém usava tal vestimenta.
A popularidade Ban Ki-moon caiu nas últimas semanas. Uma pesquisa recente mostrava 13,1% de opiniões favoráveis, contra 20,3% no momento em que retornou ao país.
Diplomata de carreira, Ban Ki-moon nunca foi filiado a um partido, mas foi ministro das Relações Exteriores de 2004 a 2006, durante o governo do presidente liberal Roh Moo-Hyun.
A eleição presidencial sul-coreana está prevista para acontecer no fim de 2017.
Para o cientista político Park Kie-Duck, Ban "não conseguiu projetar uma imagem de chefe com visão e projeto político concreto".
"Sem um aparato político para apoiá-lo, a aura de ex-secretário-geral da ONU evaporou rapidamente", disse à AFP.
"Como diplomata de carreira, ele não suportou a severidade da vida política local".
A eleição presidencial sul-coreana está prevista para acontecer no fim de 2017.
Mas pode ser organizada antes se a Corte Constitucional confirmar o impeachment da presidente votado pelo Parlamento. Neste caso, a eleição deverá ser organizada em um prazo de 60 dias após a decisão.