A ordem executiva do presidente Donald Trump que proibiu a entrada nos EUA de cidadãos de sete países de maioria muçulmana gerou caos e protestos em todo o país neste domingo. Advogados tinham dificuldade para determinar quantas pessoas tinham sido afetadas até agora pela medida, que, segundo Trump, estava "funcionando muito bem".
Críticos, no entanto, relataram confusão generalizada, com um número incerto de passageiros sendo mantido num limbo legal por causa de procedimentos mal definidos. Alguns advogados improvisaram mesas no Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York, para oferecer assistência a famílias cujos parentes tinham sido detidos.
"Simplesmente não sabemos quantas pessoas são e onde elas estão", disse Lee Gelernt, vice-diretor do Projeto de Direitos dos Imigrantes, da União Nacional de Liberdades Civis.
Enquanto isso, protestos continuaram neste domingo, incluindo um em Chicago organizado por grupos judeus em apoio a muçulmanos. Outras demonstrações ocorreram no aeroporto Dulles, em Washington, D.C., em frente à Casa Branca, em Nova York, Boston e várias outras cidades.
No aeroporto Dallas-Fort Worth, cerca de 200 pessoas seguravam cartazes e pediam que as pessoas detidas fossem liberadas. Elas esperavam notícias de nove pessoas que tinham sido detidas no aeroporto, a maioria delas iranianas, de acordo com o Conselho de Relações Americanas-Islâmicas.
Grandes protestos em aeroportos começaram no sábado, um dia depois de Trump assinar uma ordem executiva impedindo a entrada nos EUA de cidadãos de Irã, Iraque, Síria, Sudão, Líbia, Somália e Iêmen. O presidente também suspendeu por quatro meses o programa de refugiados dos EUA.
Neste domingo, Trump defendeu a medida e disse que vai encontrar outras maneiras de ajudar aqueles que sofrem com a guerra civil na Síria. Em nota, o presidente disse que os EUA são uma nação de imigrantes e que o país "vai continuar demonstrando compaixão por aqueles que estão fugindo da opressão" mas que vai ao mesmo tempo "proteger seus cidadãos e suas fronteiras".
Trump disse também que não se trata de uma "proibição a muçulmanos" e culpou a mídia por insinuar isso, e afirmou que os EUA vão retomar a emissão de vistos para os países afetados após reavaliar políticas de segurança.
Um juíza federal em Nova York emitiu uma ordem no sábado impedindo temporariamente o governo de deportar pessoas com vistos válidos e que chegaram ao país após a ordem entrar em vigor. Tribunais federais nos Estados de Virginia, Massachusetts e Washington emitiram ordens similares. Mas ainda deve haver muita confusão nas próximas semanas sobre quem pode permanecer no país e quem será deportado.
A juíza distrital Ann M. Donnelly deve levar várias semanas para tomar uma decisão mais definitiva sobre a legalidade da ordem executiva de Trump. Opositores da medida e advogados do governo terão a chance de expor seus argumentos em documentos e no tribunal. Ativistas querem que a ordem seja revogada completamente.
Presidentes de universidades criticaram a proibição e recomendaram a alunos e professores dos sete países listados que evitem sair dos EUA por enquanto. "Se a medida for mantida, vai reduzir ao longo do tempo o alcance e o poder dos esforços de educação e pesquisa das universidades americanas", disse o presidente da Universidade de Notre Dame, padre John I. Jenkins
Mas não havia sinais de que a administração Trump atenderia a esses apelos. "A proibição a viagens continuará em vigor, e o governo dos EUA se reserva o direito de revogar vistos a qualquer momento para garantir a segurança nacional ou do público", disse em comunicado o Departamento de Segurança Interna dos EUA.
Entre aqueles presos num limbo legal estavam iraquianos que prestaram serviços a militares dos EUA, visitantes idosos do Irã e do Iêmen e residentes dos EUA que estavam no exterior e não sabem se poderão voltar para casa.
"E agora? O que vai acontecer", perguntou Mohammed al-Rawi, cidadão americano nascido no Iraque, após seu pai, de 69 anos, que iria visitar os netos na Califórnia, ser detido abruptamente e deportado para o Iraque após 12 horas sob custódia. "Vão criar campos para muçulmanos?"
Um funcionário do Departamento de Segurança Interna disse que 109 pessoas que estavam em trânsito em aviões foram proibidas de entrar no país e 173 que tinham os EUA como destino não puderam embarcar no exterior. Nenhum portador de green card foi proibido de entrar até o sábado, disse o funcionário, embora vários tenham passado horas em detenção antes de serem liberados.
Hameed Khalid Darweesh, tradutor e assistente dos militares norte-americanos no Iraque por 10 anos, estava entre as pessoas detidas no Aeroporto JFK. Ele foi liberado após seus advogados, dois membros do Congresso e cerca de 2 mil manifestantes irem até o aeroporto para pedir sua liberação.
O governador de Nova York, Andrew Cuomo, disse que seis pessoas proibidas de entrar nos EUA por causa da ordem de Trump continuavam detidas no Aeroporto JFK até o domingo à tarde.