Será possível um dia desviar a trajetória de um asteroide em rota de colisão com a Terra? Estados Unidos e Europa preparam um experimento espacial para checar esta possibilidade, mas se deparam com recursos insuficientes.
Há anos, a Nasa e a Agência Espacial Europeia (ESA) elaboram uma missão conjunta batizada AIDA para verificar se é possível mudar o curso de um asteroide.
A agência espacial americana tem previsto provocar uma colisão entre um projétil lançado a partir da Terra e o satélite do asteroide Didymos, que em 2022 se encontrará a apenas 13 milhões de quilômetros do nosso planeta.
"O objetivo é validar uma tecnologia para que se um dia um asteroide ameaçar entrar em colisão com a Terra, estejamos seguros de poder provocar uma explosão e mudar sua trajetória", declarou à AFP Ian Carnelli, chefe do projeto AIM (Asteroid Impact Mission) na ESA.
Como parte da missão AIDA, os americanos preveem enviar ao espaço em 2020 um aparelho de 600 kg, batizado DART (Double Asteroid Redirection Test).
Dois anos depois, o DART deveria colidir, a uma velocidade de 6 km por segundo, com o satélite, que mede 160 metros de diâmetro.
Os europeus, por sua vez, deveriam lançar a sonda AIM ao encontro do Didymos (de quase 800 metros de diâmetro) e seu satélite, a fim de estudar, em 2022, suas características e registrar imagens do impacto.
A missão AIM foi apresentada em dezembro no Conselho ministerial da ESA em Lucerna (Suíça), mas foi adiada por falta de recursos.
Não desistir
A ESA pedia 250 milhões de euros para a AIM. Recebeu o apoio de vários pequenos países europeus, principalmente de Luxemburgo, mas os grandes se mantiveram à margem.
O diretor-geral da ESA, Jan Woerner, disse estar "decepcionado", porque está "convencido da necessidade do projeto".
"A missão não foi anulada", detalhou Woerner na semana passada. "Não renuncio, principalmente porque vários Estados-membros me pediram para não abandonar".
"Estamos pensando em várias soluções, entre elas uma versão mais leve da AIM", reduzindo um pouco seu conteúdo científico, explicou.
"Desta forma, seria possível reduzir o orçamento para menos de 150 milhões de euros, sem incluir o lançamento", declarou à AFP Patrick Michel, astrofísico do Observatório da Costa Azul e responsável científico da AIM.
Em sua versão completa, a AIM prevê uma câmera, um equipamento de rádio, um pequeno aterrissador, mini-satélites CubeSats e vários radares.
O tempo urge. "Ainda nos restam dois meses, mais ou menos, para progredir e encontrar dinheiro", afirma Carnelli.
"Se a Europa não realiza a AIM, perderá toda a experiência adquirida com a sonda Rosetta sobre navegação perto de um pequeno corpo celeste", adverte Michel.
Ainda que a ESA jogue a toalha, a missão americana DART não será comprometida, porque a colisão poderá ser vista a partir da Terra. Seu orçamento é de cerca de 150 milhões de dólares.
Atualmente, considera-se que mais de 1.700 asteroides são potencialmente perigosos porque suas trajetórias cruzam com a da Terra a uma distância inferior a 10 milhões de km. "É necessário vigiá-los", aponta Michel.
"Se um asteroide de 150 metros caísse sobre a Terra, isto representaria o equivalente a 10.000 bombas de Hiroshima em termos de energia liberada", explica.