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Javier Palomarez: um líder latino entre os assessores de Trump

Palomarez mantém firme sua oposição ao muro e à deportação em massa de ilegais, afirmando que a reforma migratória é um "imperativo econômico" para os Estados Unidos

À frente da Câmara de Comércio Hispânica dos Estados Unidos, Javier Palomarez se opôs abertamente a Donald Trump durante a campanha eleitoral, chegando a chamá-lo de "palhaço".

Mas em uma guinada dramática, o dinâmico líder empresarial se tornou assessor do magnata republicano, que nesta sexta-feira (20/1) será empossado presidente dos Estados Unidos.

"Como uma associação que representa 4,2 milhões de negócios de hispânicos, que contribuíram com 668 bilhões de dólares à economia americana, fica muito claro que temos que estar dentro do jogo", disse em entrevista à AFP.

"Devemos garantir que os pequenos negócios tenham voz e a única forma é nos asseguramos de falar com" o novo governo, acrescentou.

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Essas conversações estão centradas nestes dias no espinhoso tema da imigração, talvez o mais ruidoso da campanha de Trump, que acusou os mexicanos em situação ilegal de serem "narcotraficantes" e "estupradores", prometeu erguer um muro na fronteira e fazer o México pagar por ele, e disse que deportará milhões de imigrantes em situação ilegal.

Com 57 anos e vasta cabeleira branca, Palomarez mantém firme sua oposição ao muro e à deportação em massa de ilegais, afirmando que a reforma migratória é um "imperativo econômico" para os Estados Unidos.

Mas o líder há sete anos da Câmara de Comércio Hispânica (USHCC) admite que a "mudança nas circunstâncias" - a vitória de Trump - o levou ao seu novo papel.

Contatado pelo advogado Michael Cohen, membro da equipe de Trump, desde a madrugada posterior à eleição de 8 de novembro, Palomarez acordou "oferecer-lhes aconselhamento e assessoria quando for requerido".

Ele terá um papel informal dentro da Coalizão Nacional para a Diversidade por Trump, que reúne personalidades de diferentes minorias étnicas e religiosas partidárias do novo presidente republicano.

Originário do estado do Texas e caçula de dez filhos de mãe mexicana, Palomarez não é o único latino na coalizão, mas certamente é o de maior notoriedade: o ex-candidato presidencial e senador republicano John McCain, uma respeitada figura em Washington e defensor de uma ampla reforma migratória, e seu colega, Jeff Flake, foram convidados de honra de uma recepção da USHCC esta semana.

Mas até alguns meses atrás, a USHCC estava no campo oposto da candidata democrata Hillary Clinton e Palomarez ensaiava uma dura artilharia contra Trump, acusando o magnata de "palhaço" e de liderar um "movimento de ódio".

Por isso, sua aproximação de Trump, com quem já havia se reunido em 2015, demonstrou ser controversa entre alguns grupos de defesa dos hispânicos, firmes partidários da reforma migratória impulsionada por Barack Obama e bloqueada pelos republicanos no Congresso.

O presidente da organização Latino Victory, Cristóbal Alex, acusou Palomarez de "cair na armadilha" e estar a serviço do governo Trump "ao invés de cuidar do bem-estar da nossa comunidade como um todo".

O gesto de Trump de convidar líderes latinos para a mesa de discussões é, "de fato, apenas simbólico", acrescentou em um comunicado.

Surpresa, a revista Latina simplesmente estampou, ao noticiar o anúncio, ";;Qué?" (O que?).

Prestando atenção

O voto em branco em estados-chave impulsionou o salto de Trump à Casa Branca, após uma campanha na qual o bilionário soube explorar os temores de setores da sociedade americana diante dos efeitos econômicos e culturais da globalização.

Mas apesar de sua retórica anti-imigração, Trump obteve 28% do voto latino - segundo o instituto Pew, que compilou dados de pesquisas de boca de urna -, não muito distante dos candidatos republicanos de 2008 e 2012.

A maioria dos hispânicos, a primeira minoria do país, com 55 milhões de habitantes, diverge de Trump no tema migratório: 68% dos eleitores latinos se opõem à construção do muro e mais de três em cada quatro defendem uma via para a legalização dos 11 milhões de imigrantes em situação ilegal, segundo o instituto Pew.

Mas Palomarez afirma que suas conversas estão dando frutos e confia em que o novo governo revisará alguns de seus postulados mais radicais sobre o tema migratório.

"Penso que estão prestando atenção, estão indo mais lentamente e de forma mais comedida, e estão se tornando mais ponderados em sua abordagem sobre este tema delicado", afirmou.

Após se reunir com o nomeado de Trump para o Departamento do Tesouro, Steven Munchkin, Palomarez sente ter razões para estar "entusiasmado" sobre o futuro econômico.

"Vai encontrar formas de reduzir os entraves regulatórios e assegurar que o fluxo de capital vá para as pequenas empresas", antecipou.