A China reagiu com cautela depois dos ataques do secretário de Estado americano designado por Donald Trump, Rex Tillerson, que ameaçou proibir ao gigante asiático o acesso às polêmicas ilhotas no mar da China, o que equivaleria a um inédito bloqueio.
Na quarta-feira (11/1), o ex-presidente da ExxonMobil multiplicou os ataques à China, durante a sabatina na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
"Vamos ter que enviar um claro sinal à China, para mostrar que as construções sobre as ilhas devem cessar, e que não se permitirá seu acesso" às mesmas, declarou.
Essa inédita ameaça provocou uma moderada reação de Pequim.
A China "tem inteiramente o direito" de realizar atividades na região, rebateu o porta-voz da diplomacia chinesa, Lu Kang.
Pequim reivindica a quase totalidade do mar da China meridional, zona considerada rica em hidrocarbonetos e importante via marítima. Países vizinhos - como Filipinas, Vietnã, Brunei e Malásia - também reivindicam sua parcela.
Para afirmar sua soberania, a China está fazendo obras de terraplenagem para ampliar a área das ilhotas e recifes e construir instalações portuárias, faróis, pistas de aterrissagem, ou infraestruturas militares, como denuncia o Pentágono.
"Como a tomada da Crimeia"
"Construir ilhas (artificiais) e depois instalar material militar é a mesma coisa que a tomada da Crimeia pela Rússia", disse Tillerson.
"Tomaram territórios e os controlam (...), são territórios que não pertencem à China", insistiu o provável secretário.
Do lado chinês, optou-se pela cautela, destacando a tranquilidade que reina nessa região nos últimos meses.
"A situação no mar da China meridional se acalmou. Esperamos que os países externos à região respeitem o consenso" de que essa tranquilidade "vai no interesse fundamental de todo o mundo", afirmou Lu Kang.
Além disso, a ameaça cogitada por Rex Tillerson não parece um "objetivo crível" e tentar aplicá-la pode ser "contraproducente", disse à AFP o professor Rory Medcalf, da Australian National University.
O fato é que Washington enviou várias vezes navios de guerra para a região, além de aviões para as ilhotes, em nome da "liberdade de navegação".
As Forças Armadas dos Estados Unidos na Ásia não têm, porém, navios em número suficiente para que um bloqueio seja realista, e "é dificilmente imaginável que isso aconteça sem um enfrentamento", adverte Medcalf.
As palavras de Tillerson surgem em um contexto de crescentes tensões entre Pequim e Donald Trump, alimentadas pelos reiterados ataques do presidente eleito sobre o nível do iuane, ou por seu projeto de tarifas aduaneiras.
Além disso, depois de uma conversa por telefone com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, Trump deu a entender, em dezembro passado, que não se sentia ligado à política de uma "China única". O episódio preocupou Pequim.
Segundo Tillerson, os Estados Unidos devem dizer a Taipé que não vão abandonar seu compromisso de defender a ilha militarmente. Prudente, acrescentou que não foi informado sobre um abandono da "política de China única".
Outro ponto de atrito: a Coreia do Norte e seu programa nuclear ilegal. A China não foi "um sócio confiável para usar sua influência" sobre Pyongyang, avalia o provável secretário de Estado.
Ainda de acordo com Tillerson, os objetivos da China estão, às vezes, "em conflito com os interesses americanos".