O bitcoin, moeda virtual utilizada para transações na internet, era cotado em mais de 1.100 dólares nesta quinta-feira (5/1), seu nível mais alto em três anos e continua querendo se transformar em uma moeda estável, no contexto de insegurança financeira.
O recorde de quinta-feira no Bitcoin Price Index (BPI), um índice que registra os principais intercâmbios da moeda, confirma sua boa forma depois de ter sido a divisa com os melhores resultados de 2016.
Desde a sua criação, em 2009, o bitcoin tem sido muito volátil. Em 2013, o bitcoin bateu outro recorde, a 1.165,89 dólares, mas depois perdeu três quartos do seu valor antes de recuperar-se novamente.
Em agosto passado, as notícias do roubo de bitcoins por parte de um grupo de hackers fizeram a moeda sofrer uma desvalorização de mais de 20%.
Analistas acreditam agora que a volatilidade cairá à medida que aumentarem os volumes de intercâmbio, mas também como consequência do dólar forte e dos controles de capitais, cada vez mais rigorosos em vários países do mundo.
Nos últimos meses, a caótica retirada na Índia das duas notas de maior denominação e das restrições na China para comprar moeda estrangeira também contribuíram para aumentar seu valor.
Desde a sua criação, a moeda não superou os 21 milhões de unidades, das quais já foram criados três quartos. Os bitcoins são criados por supercomputadores e depois são trocados na internet por produtos e serviços.
"Estão sendo criados poucos bitcoins, e as pessoas os veem como um bom refúgio diante da desvalorização das moedas de seus países, e em vez de comprar dólares, compram bitcoins", explicou Vinny Lingham, diretor da Civic, companhia americana especializada em proteção da identidade digital.
"O bitcoin está se transformando em uma moeda segura", acrescentou, citando a incerteza nos países emergentes após a vitória nas presidenciais americanas de Donald Trump, e estimando que a moeda poderá alcançar os 3.000 dólares no final deste ano.
"Os ;millennials; [pessoas nascidas após 1980] não acreditam no ouro, como seus pais. O bitcoin se transformou em uma moeda confiável se você vive em um mercado estrangeiro e está preocupado com o seu governo", explica Lingham, acrescentando que a moeda valorizou-se sobretudo nos mercados emergentes.
Um fenômeno global
Na China, a demanda de bitcoins sobe devido às restrições de capital, "mas não só na China, é um fenômeno global", assegurou à AFP Bobby Lee, fundador e diretor da plataforma de intercâmbio de bitcoins BTC China.
"Há muitos exemplos de desmonetização. Na Índia, estão retirando algumas notas, na Argentina também. Isso torna o bitcoin mais atraente", disse Lee, prevendo mais regulação das moedas digitais no futuro, o que não acontece agora.
Segundo Dickie Wong, diretor de pesquisa da Kingston Securities, com sede em Hong Kong, muitos chineses estão trocando seu dinheiro por bitcoins, à medida que o iuane se desvaloriza e pelo limite de compra de 500.000 dólares em moeda estrangeira imposto pelo governo chinês.
"A desvalorização do RMB (iuane) é o principal problema", afirma.
O bitcoin tem agora um valor de capitalização que supera os 18 bilhões de dólares, muito mais do que outras "criptomoedas" rivais, mas muito menos do que outras moedas do mundo.
Ajay Sunder, vice-presidente de transformação digital da Asia Pacífico na consultoria Frost & Sullivan de Cingapura, explica que além do contexto atual o bitcoin poderá se valorizar ainda mais com o aumento dos pagamentos digitais.
"De modo geral as pessoas se sentem cada vez mais confortáveis usando sistemas de pagamentos digitais e transações digitais. Mas os bitcoins ainda são marginais e teremos que ver se eles se tornaram de massa", avalia.