Declarado culpado em meados de dezembro do pior massacre racista da história recente nos Estados Unidos, o supremacista branco Dylann Roof declarou nesta quarta-feira (4) que não lamenta ter matado nove pessoas inocentes em uma nota lida durante seu julgamento.
Em conformidade com o procedimento judicial federal, o jovem, de 22 anos, compareceu à segunda fase de seu julgamento, na qual sua pena será determinada, diante da mesma corte federal e do mesmo júri de um tribunal de Charleston.
Nessa cidade da Carolina do Sul (sudeste), Dylann Roof disparou 77 vezes no interior de uma igreja metodista, em 17 de junho de 2015, matando nove fiéis negros que acabavam de recebê-lo em uma sessão de leitura da Bíblia.
Há três semanas, um júri de 12 pessoas selecionadas meticulosamente precisou de apenas duas horas de deliberações para declarar Roof, partidário declarado do nazismo e do Ku Klux Klan, culpado.
Não encontraram nenhuma circunstância atenuante para o jovem, que respondeu afirmativamente às 33 acusações federais que pesam contra ele.
"Quero deixar claro que não lamento o que fiz", escreveu Roof em uma nota escrita na prisão e lida pela Promotoria.
"Não derramei uma lágrima pelas pessoas inocentes que matei", insistiu.
"Lamento pelas crianças brancas inocentes que são forçadas a viver neste país doente e lamento pelas pessoas brancas inocentes que morrem diariamente nas mãos de raças inferiores", acrescentou.
A questão que ainda precisa ser decidida é a mais crucial e, de fato, a única que gera um verdadeiro suspense no julgamento: o veredicto será a pena de morte, ou a prisão perpétua?
O imprevisível Roof, que decidiu garantir sua própria defesa, apesar dos conselhos de seus advogados, ressaltou que "quis defender a mim mesmo para evitar que meus advogados apresentem (evidências) de problemas mentais".
"Não tenho nenhum problema psicológico", afirmou.
Essa foi a primeira vez que o júri ouviu o acusado diretamente. Até o momento, sua ideologia racista havia sido expressada em um vídeo gravado após sua prisão e em um manifesto publicado na Internet antes do ataque.
;Não vou mentir;
Na primeira fase de seu julgamento, na qual Roof se declarou culpado, seu advogado David Bruck pediu repetidas vezes ao júri que considerassem a deficiência mental do acusado. Também convocou uma audiência na segunda-feira (2) para avaliar se o jovem era apto para enfrentar um julgamento. O juiz federal Richard Gergel decidiu em favor da Promotoria e considerou que Roof é intelectualmente competente.
O procurador Nathan Williams solicitará a pena de morte em nome do governo federal, baseando-se em uma lei que pune os crimes com motivações racistas.
"Ele os matou pela cor da pele, porque considerava que eram menos do que gente", argumentou o procurador.
As sentenças federais à pena capital são pouco frequentes no sistema penal americano, onde os criminosos são julgados geralmente pelos estados. O último caso conhecido é o do autor dos atentados de Boston de 2013, Djokhar Tsarnaev.
Desde 1976, as autoridades centrais executaram apenas três penas capitais.
O magistrado Richard Gergel, que preside o julgamento, considerou Roof - cujo ódio frio e calculado fez a comunidade negra de Charleston se lembrar dos piores momentos da segregação racial - competente para se defender na fase de condenação do julgamento.
Gergel também estipulou que o acusado "não poderá se aproximar do júri, das testemunhas, ou dos magistrados".
No entanto, Dylann Roof descartou convocar testemunhas para que depusessem a seu favor e explorassem a ideia de que não estava em plenas capacidades mentais para ser julgado.
Espera-se que o veredicto seja divulgado em 10 dias. O estado da Carolina do Sul também julgará Dylann Roof em outro processo, no qual também enfrenta a pena de morte.
Por France Presse