Esta decisão, anunciada por uma ONG e confirmada por um vereador, ocorreu horas antes de o secretário de Estado americano em fim de mandato, John Kerry, pronunciar um discurso sobre o conflito entre Israel e os palestinos, no Departamento de Estado.
"O presidente (do comitê de planejamento e construção de Jerusalém) nos disse que (o assunto das autorizações) havia sido retirado da ordem do dia, a pedido do primeiro-ministro para evitar um conflito com o Governo americano", declarou um conselheiro municipal, Hanan Rubin.
O comitê deveria estudar a concessão de 492 permissões de construção nas colônias de Ramat Shlomo e Ramot em Jerusalém Oriental, a parte palestina da Cidade Santa, disse Rubin.
A análise destas autorizações será realizada em uma data posterior, acrescentou, sem divulgar mais detalhes.
A ONG anticolonização Ir Amim havia anunciado previamente que as permissões de construção envolviam 618 casas em Jerusalém Oriental.
As relações entre Israel e seu aliado americano estão deterioradas, principalmente depois que Washington se negou a vetar na sexta-feira uma resolução da ONU que condena as colônias israelenses pela primeira vez desde 1979.
[SAIBAMAIS]Com a abstenção dos Estados Unidos, os outros 14 membros do Conselho de Segurança da ONU aprovaram um texto que convoca Israel a "cessar imediatamente qualquer atividade de colonização em território palestino ocupado, incluindo Jerusalém Oriental", alegando que as colônias "não têm valor jurídico" e são "perigosas para a viabilidade de uma solução com dois Estados".
A atitude americana provocou a revolta de Israel, cujo primeiro-ministro rejeitou "uma resolução anti-israelense vergonhosa" e afirmou que seu país não a respeitará.
Mas, no que parece ser uma tentativa de acalmar as relações, Netanyahu pediu o adiamento do debate sobre a concessão das autorizações de construção em Jerusalém Oriental.
Visão de Kerry sobre a paz
A comunidade internacional, que classifica de ilegal a colonização israelense, considera que ela é o maior obstáculo para a paz, já que os assentamentos são construídos em terras que poderiam pertencer ao Estado ao qual os palestinos aspiram.
Os Estados Unidos agem tradicionalmente como o escudo diplomático de Israel mas, frustrados após anos de esforços inúteis, decidiram se abster na ONU alegando o impacto negativo da colonização sobre o processo de paz israelense-palestino, em ponto morto desde 2014.
Nesta quarta-feira, Kerry apresentará em um discurso sua "visão completa" sobre este processo de paz. "Não o abandonamos e não pensamos que os israelenses e os palestinos devam (fazê-lo)", declarou o porta-voz do Departamento de Estado.
Kerry acredita que "é seu dever, em suas últimas semanas e últimos dias como secretário de Estado, apresentar o que ele pensa que deve ser o caminho para uma solução com dois Estados", segundo o porta-voz.
Donald Trump, que assumirá a presidência dos Estados Unidos no dia 20 de janeiro, mostrou um discurso mais favorável em relação a Israel nos últimos tempos, chegando inclusive a pedir que Washington vetasse a resolução da ONU.
Embora esta resolução não preveja sanções contra Israel, o governo teme que facilite as denúncias ante o Tribunal Penal Internacional e avive a rejeição aos produtos das colônias.
Após a votação do Conselho de Segurança, Israel anunciou que "reduzirá" suas relações com alguns países que votaram a favor do texto e chamou para consultas seus embaixadores na Nova Zelândia e no Senegal, que impulsionaram a resolução na ONU.
Um total de 430.000 colonos israelenses vivem na Cisjordânia ocupada, e mais de 200.000 residem em Jerusalém Oriental.
Por Agência Estado