;Eu prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada, por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma, por estar confirmada e agarrada à sua própria segurança.; Em 10 de novembro de 2015, durante audiência com bispos, em Florença, o papa Francisco sinalizou uma das principais características de seu pontificado: o protagonismo. Nas últimas décadas, apenas João Paulo II alcançou tamanho nível de popularidade. O argentino Jorge Mario Bergoglio, 80 anos, adotou a simplicidade como estilo de vida, enfrentou a corrupção na Cúria Romana, combateu a pedofilia, atacou o carreirismo, confrontou dogmas milenares e abriu as portas da Igreja aos homossexuais. Em 1.383 dias de pontificado, restabeleceu o ativismo diplomático da Santa Sé e foi crucial na histórica reaproximação de Estados Unidos e Cuba e no fim do conflito entre o governo da Colômbia e a guerrilha das Farc.
O padre jesuíta e vaticanista norte-americao Thomas J. Reese explicou ao Correio que o prestígio internacional de Francisco o habilitou à condição de mediador de conflitos. ;O papa pode pressionar líderes políticos relutantes em fazer a coisa certa e ajudá-los a tomar decisões políticas difíceis, ante a oposição em seus países;, afirmou o autor de O Vaticano por dentro: a política e a organização da Igreja Católica. ;Também devemos lembrar que o pontífice é auxiliado por diplomatas do Vaticano bastante profissionais, incluindo o secretário de Estado (o cardeal Pietro Parolin).; Mas a intervenção da Santa Sé está longe de ser infalível. ;Os papas têm praticado a diplomacia ao longo dos séculos. Francisco não pode fazer milagre. Apesar de seus apelos, o Oriente Médio continua uma bagunça;, atesta. Mesmo após a assinatura do acordo de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo de Juan Manuel Santos, ele recebeu em audiência o presidente colombiano e seu antecessor, Álvaro Uribe, numa tentativa de reconciliação entre os dois adversários políticos.
Reese lembra que Francisco deixou de lado os ornamentos mais reais do pontificado para alcançar os marginalizados, especialmente os refugiados, os doentes e os pobres. Ao falar e escrever sobre temas importantes, como a evangelização, a economia, o meio ambiente e a família, ele adotou um modo de fácil compreensão. O papa incorporou a filosofia de seu pontificado e, algumas vezes, saiu às ruas de Roma para distribuir dinheiro aos mendigos. Na quarta-feira passada, surpreendeu ao deixar o Vaticano para comprar sapatos ortopédicos nas imediações da Praça de São Pedro.
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