Diante de criminosos que utilizam caminhões pesados para avançar contra multidões e provocar verdadeiros massacres não existem medidas infalíveis, mas é possível tomar precauções, advertem especialistas em segurança.
O número de potenciais alvos deste tipo de ataques é tão alto que o risco continuará existindo nos próximos anos, afirmam especialistas sobre este método de ataque preconizado há anos pela Al-Qaeda e pelo grupo Estado Islâmico (EI). "A única maneira de se proteger é quando o evento está previsto com antecedência. Neste caso é possível tomar medidas de precaução, como proibir a circulação nas ruas ou colocar blocos de concreto", disse à AFP um funcionário de alto escalão da luta antiterrorista, sob condição de anonimato. É o caso dos mercados de Natal na França, onde é possível tomar medidas de segurança. "Após o massacre de Nice (sudeste), estes alvos estavam entre as hipóteses".
"Mas o que aconteceria se ocorresse um ataque similar em um dia de semana em fevereiro, sem nenhum evento particular, na Champs-Élysées ou em uma avenida qualquer? Neste caso não se pode fazer nada. Pode acontecer em qualquer lugar e a qualquer momento". "Este é o grande problema deste tipo de atentados. São ataques repentinos com meios que podem ser encontrados facilmente", explicou este funcionário.
Além disso, as medidas de proteção estáticas, como as barreiras, são dissuasivas, mas podem ser burladas. O tunisiano Mohamed Lahouaiej Bouhlel, que cometeu o massacre de Nice no dia 14 de julho (86 mortos), esteve no local do ataque um dia antes de passar à ação para localizar o lugar pelo qual poderia entrar no Passeio dos Ingleses, a avenida costeira na qual uma multidão se reuniu para observar os fogos de artifício.
"É preciso realizar estudos de vulnerabilidade, mas isso exige meios", explica à AFP Ludovic Guérineau, ex-membro dos serviços secretos franceses e atual diretor de operações da empresa de segurança privada Anticip. "São lugares abertos, em ambientes naturais, e por isso terão que adotar medidas adaptadas". "Infelizmente, é preciso se acostumar a viver sob ameaça, conscientes de que os métodos dos criminosos inevitavelmente se adaptarão". "Se eles virem que as medidas adotadas para contra-atacar a ameaça mudam, modificarão seus métodos", indicou.
"Máquina para matar"
Este mesmo tipo de ataques contra civis, militares ou policiais foi visto em Israel. Atacantes palestinos chegaram inclusive a utilizar máquinas utilizadas em obras públicas, difíceis de deter. Em setembro de 2014, o grupo Al-Qaeda na Península Arábica (AQPA) descreveu este método em sua revista de propaganda Inspire, convocando seus seguidores a utilizar veículos pesados para cometer atentados. Em sua primeira página, mostrava um caminhão Ford sob o título "A última máquina para matar".
"Podem utilizar caminhões, o quanto maior melhor. Para provocar o maior dano possível, devem circular rápido, mantendo o controle do veículo para atingir uma grande quantidade de pessoas", indicou. O então porta-voz do EI, Abu Mohamed al-Adnani, também convocou os simpatizantes do grupo extremista a atacar os "infiéis" com os meios disponíveis. "Se não tiverem bombas ou armas, encontrem um americano ou um francês, ou qualquer um de seus aliados. Batam em suas cabeças com uma pedra, esfaqueiem, os atinjam com seus veículos".
"No futuro, quando este tipo de evento público for realizado, será preciso levar em conta esta ameaça", concluiu o funcionário antiterrorista. "Mas quando não se tratar de um evento planejado, não há nada a ser feito. Não é possível proibir a circulação de todos os caminhões nos centros das cidades", concluiu.
Por France Presse