Munguia aponta um grave erro no gerenciamento da guerra às drogas. Ele explica que as autoridades não fizeram um diagnóstico claro das instituições de segurança e judiciais. Em vez disso, decidiram usar as Forças Armadas para perseguir as organizações criminosas. ;Isso fez com que os cartéis ampliassem o poderio armamentista e levou a mais violência, a violações frequentes dos direitos humanos e a desaparecimentos forçados;, observa. O especialista afirma que o narcotráfico abarcou atividades criminosas em setores da economia nos quais não exercia influência, como o controle de recursos naturais e das rotas migratórias, mais as extorsões sistemáticas. Em agosto de 2010, ao menos 72 imigrantes foram assassinados pelo Cartel Los Zetas depois de se recusarem a trabalhar para o grupo. Entre eles estavam quatro brasileiros.
O combate ao narcotráfico, na opinião de Munguia, passa pelo aperfeiçoamento das instituições judiciais e pela profissionalização da polícia. ;É uma aposta de médio prazo, que os políticos não têm desejado fazer. Os governadores são omissos e, muitas vezes, cúmplices da delinquência. Também precisamos de uma verdadeira luta contra a corrupção dentro dos governos. Talvez este seja o principal mal de que o país padece;, disse Munguia.
Ostentação até na morte
Mausoléus de dois andares, alguns equipados com sala de estar, ar-condicionado e até vidros à prova de bala. Enquanto muitas das vítimas do narcotráfico são lançadas em fossas clandestinas, desovadas em estradas ou enforcadas em pontes, no cemitério Jardins de Humaya, em Culiacán (noroeste), os chefões do Cartel de Sinaloa buscam um fim mais digno. Um túmulo mais parece uma capela, com colunas brancas, vitrais com anjos e uma efígie de Jesus em pé no teto. Outros mausoléus mais parecem apartamentos modernos, com portas de vidro, escadas que levam ao segundo piso e salas de estar com poltronas para os enlutados.
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Um dos mausoléus, que, segundo contam, abriga os restos de um matador de aluguel do Cartel de Sinaloa, tem porta de vidro à prova de balas, uma cruz que brilha no escuro no topo do módulo e câmeras de segurança na entrada. Ao cair da noite, as luzes se acendem automaticamente em várias criptas, muitas delas com sistemas de alarme. A maior parte das tumbas tem fotos ou pinturas dos mortos estampados nas paredes, sem qualquer nome que os identifique.
"É uma expressão do poder que eles ostentaram e acredito que também seja uma manifestação de seu desejo de eternidade, que é muito natural em qualquer ser humano", afirma à agência France-Presse Juan Carlos Ayala, professor de filosofia da Universidade Autônoma de Sinaloa e especialista em narco-cultura. Algumas criptas teriam custado nada menos do que US$ 290 mil (cerca de R$ 980 mil).
Segundo Ayala, os luxuosos mausoléus são um dos símbolos da "narco-cultura" que surgiu na última década, ao penetrar a comunidade com a cultura tradicional. O fenômeno também se misturou à religião. Criminosos e milhões de mexicanos adoram uma caveira chamada de Santa Morte. Muitos louvam outro santo popular, o Jesus Malverde, que, segundo a lenda, foi uma espécie de Robin Hood, bandido que roubava dos ricos para dar aos pobres até ser enforcado, em 1909.
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