Em 31 de agosto passado, com a voz embargada, Dilma Rousseff declarou: ;Acabam de derrubar a primeira mulher presidenta do Brasil, sem que haja qualquer justificativa constitucional para este impeachment;. Ela denunciou um golpe contra o direito das mulheres. No primeiro ano após não eleger um sucessor, a argentina Cristina Kirchner se viu às voltas com vários problemas na Justiça, os quais minaram seu capital político. Nas eleições regionais de 23 de outubro, a líder de centro-esquerda chilena Michelle Bachelet viu os rivais da direita vencerem na maior parte dos municípios.
Dezesseis dias depois, a democrata Hillary Clinton foi surpreendida pela derrota para o republicano Donald Trump, nos Estados Unidos ; talvez a notícia mais impactante dos últimos tempos. ;Sei que muitos de vocês estão decepcionados pelo resultado das eleições. Eu também estou, mais do que posso expressar;, desabafou a ex-secretária de Estado. Anteontem, foi a vez de a presidente sul-coreana, Park Geun-hye, amargar um impeachment no parlamento, em meio a um escândalo histórico.
Definitivamente, 2016 não foi o ano das mulheres na política internacional. Para a britânica Rainbow Murray, especialista em políticas de gênero da Queen Mary University of London, apesar de o gênero não ter sido o único fator dos contratempos, ele acabou por não ajudar as líderes. ;Os problemas que elas enfrentaram são, em parte, reflexos do fato de que existem mais mulheres líderes no mundo. No turbulento clima político global, os governantes de ambos os sexos enfrentaram batalhas. As mulheres são, frequentemente, avaliadas com menor valor e mais negativamente, independentemente de sua performance atual, o que as torna vulneráveis politicamente;, admitiu ao Correio.
Murray reconhece que a inserção da mulher no mundo da política obteve um impulso ascendente. ;Mas ainda há um longo caminho a percorrer, e talvez o progresso no futuro não esteja garantido. As cotas de gênero têm sido fundamentais para aumentar e normalizar a presença das mulheres nas posições de poder;, afirmou a estudiosa. Ela aponta a derrota de Hillary Clinton como o maior desastre para o empoderamento feminino e cita três motivos.
;O primeiro é que os Estados Unidos são uma nação poderosa; então, as repercussões do resultado serão sentidas em todo o planeta. O segundo está no fato de que Hillary era a melhor candidata, mas o sexismo contra ela e o racismo contra as minorias que Donald Trump alvejava triunfaram sobre a competência, a experiência e o intelecto;, explicou. Por fim, ela acusa Trump de ter expressado pontos de vista misóginos e de ter se vangloriado de agressões sexuais contra mulheres.