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Redes sociais dos EUA juntam forças para coibir conteúdo terrorista

A iniciativa chega em um momento em que os gigantes das mídias sociais enfrentam um escrutínio crescente sobre seu papel em relação ao 'boom' das chamadas notícias falsas

Enfrentando uma pressão crescente para usar sua influência tecnológica para conter a propagação da propaganda jihadista, as principais redes sociais dos Estados Unidos finalmente juntaram suas forças para coibir o "conteúdo terrorista".
Facebook, Twitter, Microsoft e YouTube, de propriedade do Google, anunciaram nesta segunda-feira uma campanha para impedir a proliferação de vídeos e mensagens que mostram decapitações, execuções e outros conteúdos repugnantes, divulgados por grupos extremistas como o Estado Islâmico ou a Al-Qaeda.

A iniciativa chega em um momento em que os gigantes das mídias sociais enfrentam um escrutínio crescente sobre seu papel em relação ao ;boom; das chamadas notícias falsas - que se acredita que influenciaram a eleição presidencial americana - assim como do bullying online e dos discursos de ódio.

Plataformas como Facebook, Twitter e YouTube lidam há alguns anos com esta questão, buscando ser abertos à liberdade de expressão sem ser usados para promover a violência ou o ódio.

Mas com o uso desenfreado das redes sociais por jihadistas para planejar, recrutar e divulgar ataques violentos, as plataformas tecnológicas foram forçadas a assumir uma posição mais forte.

"Não há espaço para o conteúdo que promova o terrorismo em nossos serviços", disseram em um comunicado conjunto.

James Lewis, um executivo sênior que acompanha questões de tecnologia e segurança no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, acredita que as mídias sociais atingiram um ponto de inflexão e não podem mais alegar que são "plataformas neutras".

"Elas não podem mais fugir da responsabilidade", disse Lewis.

"O conteúdo terrorista é apenas o começo", acrescentou. "Agora eles têm de descobrir o que fazer em relação ao discurso de ódio, ao racismo e ao bullying".

A declaração conjunta da segunda-feira não indicou que tipo de tecnologia seria usada na nova iniciativa, disse apenas que esta se basearia em um banco de dados compartilhado de "hashes", impressões digitais que identificam o conteúdo jihadista.

Alguns críticos sugeriram que esse conteúdo poderia ser controlado através de um modelo que já é utilizado por empresas da internet para bloquear a pornografia infantil.


Não há solução simples

Peter Weinberger, pesquisador sênior do Consórcio Nacional para o Estudo do Terrorismo e Respostas ao Terrorismo da Universidade de Maryland, disse que não existe uma solução tecnológica simples para o problema do conteúdo jihadista.

"É um pouco mais difícil de combater do que a pornografia infantil, onde você tem um conteúdo muito claro e censurável", disse.

"Muitas vezes os recrutadores de terroristas podem empacotar as coisas de uma forma mais esperta. Eles usam discursos codificados", acrescentou.

Weinberger disse que o esforço "é louvável, mas eles precisarão ter uma equipe designada que terá de revisar constantemente o material, porque este está sempre mudando".

No início deste ano, o Twitter anunciou que suspendeu 360 mil contas, a maioria delas ligadas ao grupo Estado Islâmico, como parte de um esforço intensificado.

Mas pesquisas mostraram que os grupos jihadistas migram rapidamente para novas contas, aproveitando o anonimato do Twitter.

Lewis disse que parece viável implementar a nova iniciativa porque as empresas podem contar com tratados internacionais que definem o terrorismo e organizações que apoiam esses esforços.

Os governos dos Estados Unidos, da França e de outros países têm pressionado empresas da internet para que façam mais para coibir conteúdos extremistas, especialmente vídeos que mostram decapitações e outros atos repugnantes frequentemente usados %u200B%u200Bem esforços de recrutamento.

Pelo menos uma ação judicial apresentada na França em nome de uma vítima dos ataques de Paris de 2015 pretende responsabilizar o Facebook, o Google e o Twitter pela violência.

Chris Calabrese, do Centro de Democracia e Tecnologia, um defensor das liberdades civis on-line, qualificou o novo esforço de "preocupante".

"Pensamos que o precedente de governos que se apoiam em empresas para fazer qualquer censura centralizada pode ter muitas consequências negativas", disse Calabrese.

"Não é apenas o conteúdo extremo e bárbaro que os governos querem suprimir, são muitos outros tipos de conteúdo, como o discurso de ódio e violações de direitos autorais", acrescentou.

Calabrese afirmou que "não há garantia de que o programa irá funcionar" para reduzir a propagação da violência e do conteúdo extremista.

Para garantir que o programa não seja abusivo, disse, "as empresas não devem aceitar nenhum pedido de censura dos governos", e deve haver um mecanismo de recurso "para corrigir eventuais erros".
Por France-Presse