"Minha experiência como chefe de Governo termina aqui", afirmou Renzi no domingo, antes mesmo do anúncio oficial da vitória do "não" à reforma constitucional estimulada por ele, com 59,95% dos votos.
"Assumo a responsabilidade pela derrota", declarou.
[SAIBAMAIS]Depois do último conselho de ministros, Renzi, 41 anos, comparecerá ao Palácio de Quirinal para apresentar a renúncia ao presidente Sergio Mattarella, um chefe de Estado discreto que será obrigado a administrar a transição.
Mattarella poderia convocar eleições antecipadas, mas também, o que é considerado mais provável, nomear um governo "técnico" para reformar a lei eleitoral.
O partido contrário ao sistema Movimento 5 estrelas (M5S) e o partido de extrema-direita Liga Norte já pediram, no entanto, a dissolução imediata do Parlamento.
"Os italianos têm que ser chamados a votar o mais rápido possível", escreveu Beppe Grillo, líder do M5S, em seu blog.
"O mais rápido, realista e concreto a fazer é votar com uma lei que já existe, o Italicum", completou.
Esta lei eleitoral, aprovada em maio de 2015, prevê que o partido que conquista mais de 40% dos votos no primeiro turno ou que vence o segundo turno se beneficie de um bônus de governabilidade, supostamente para assegurar a estabilidade do governo.
De acordo com as pesquisas mais recentes, caso acontecessem novas eleições hoje, o Partido Democrático (PD) de Matteo Renzi seria o mais votado no primeiro turno, mas perderia no segundo turno para o M5S.
Mas o bônus de governabilidade só é aplicado aos deputados. O fracasso da reforma do Senado no referendo deixa todos os poderes à Câmara Alta e um sistema eleitoral proporcional, o que pode tornar o país ingovernável.
;Frustração e descontentamento;
Os outros partidos, porém, parecem estar de acordo com a necessidade de uma nova reforma eleitoral, o que fortalece a possibilidade de nomeação de um governo "técnico", que teria como uma das primeiras missões aprovar o orçamento.
Mesmo antes do referendo já eram citados vários nomes para ocupar o posto de chefe de Governo, entre eles o do ministro das Finanças, Pier Carlo Padovan.
A nomeação de Padovan poderia tranquilizar os mercados, que temem uma nova fase de instabilidade política na terceira maior economia da Eurozona.
Nesta segunda-feira, a Bolsa de Milão operava em queda e as taxas de juros dos títulos da dívida com vencimento a 10 anos estavam em alta.
O euro também era negociado em baixa.
Na Europa, a vitória do "não" é motivo de preocupação.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Franck-Walter Steinmeier, afirmou nesta segunda-feira: "Podemos celebrar que os eleitores austríacos não votaram no candidato das forças populistas, mas vemos o resultado na Itália com inquietação".
"Não é uma mensagem positiva para a Europa, em tempos difíceis", completou Steinmeier.
Com pouco mais de 1.000 dias como primeiro-ministro, apenas superado por Bettino Craxi e Silvio Berlusconi, Matteo Renzi deixa para trás uma Itália que conseguiu recuperar o crescimento, mas não o suficiente para mudar a situação do país.
Ele chegou ao poder em fevereiro de 2014 com um programa repleto de reformas. Mas, apesar de seu esforço e energia, sua perseverança não convenceu os eleitores.
A maioria da classe política, da extrema-esquerda à extrema-direita, e inclusive críticos da própria formação de Renzi, o Partido Democrático (PD), fez campanha pela rejeição à reforma que, segundo eles, colocaria muito poder nas mãos do chefe de Governo.
"A vitória do não tem muitos pais", destacou Mario Calabresi, chefe de redação do jornal La Repubblica.
Mas além da convergência política, evidencia a "revolta, a frustração e o descontentamento: o voto dos que dizem não ao desemprego, à precariedade, às incertezas e ao empobrecimento, mas também aos migrantes".
Outra incógnita é saber se Renzi também deixará a liderança de seu partido, totalmente dividido após a batalha pelo referendo.
Por France Presse