postado em 01/12/2016 18:15
Nova York, Estados Unidos - Depois do avanço do movimento extremista "alt-right", uma organização racista nascida há 150 anos tenta reconquistar espaço após a vitória de Donald Trump: o Ku Klux Klan, que programa para este sábado (3) sua primeira reunião desde a eleição em 8 de novembro.
"O número dos nossos membros aumenta a cada dia (...) Recebemos mais de mil pedidos de informação desde a eleição", afirma Gary Munker, que se apresenta como um porta-voz desse movimento que, desde 1866, defende uma América branca e cristã e que é sinônimo de linchamentos e de assassinatos.
Como o ex-líder do KKK David Duke, que apoiou Trump durante a campanha - apoio do qual Trump buscou se distanciar -, Gary Munker reconhece que se deixou seduzir pelo discurso do magnata do setor imobiliário, sobretudo, em suas investidas contra os imigrantes.
Vestido com capuz e túnica brancas, emblemáticas desse movimento nascido no sul dos Estados Unidos, Munker garante que o braço do KKK ao qual pertence - os Loyal White Knights - conta com cerca de 700 pessoas em Long Island, onde reside, e 1.200 em todo o estado de Nova York.
"As pessoas começam a despertar, a tomar consciência do que acontece", afirmou esse pai de família de 36 anos.
Há cinco anos, Munker disse que se juntou aos Loyal White Knights - o primeiro dos cerca de 40 pequenos grupos que compõem o KKK -, depois que seu tranquilo bairro, "essencialmente branco", mudou completamente com a chegada de conjuntos residenciais populares e com uma população muito mais heterogênea.
Sem dar detalhes sobre sua profissão por medo de perder o emprego, Munker faz parte dos membros ativos do KKK. Originário de uma zona rural de Long Island, ele distribui regularmente folhetos nas cidades vizinhas, na tentativa de aumentar as fileiras do grupo.
A última vez foi em 17 de novembro, quando deixou folhetos em um estacionamento da pequena cidade de Patchogue, que figura no mapa do racismo americano desde o assassinato, em 2008, de um imigrante equatoriano por parte de estudantes. A descoberta dos folhetos levou cerca de 200 pessoas às ruas contra o racismo no domingo seguinte.
Longe dos assassinatos e das cruzes em chamas que marcaram a história e a reputação do Ku Klux Klan no passado, a distribuição de folhetos é, hoje, "a primeira atividade" do grupo e "garante uma visibilidade nacional", explica a pesquisadora Carla Hill, do Centro sobre o extremismo da Liga Antidifamação, uma grande associação judaica de luta contra a intolerância.
Segundo ela, os últimos números disponíveis não sugerem qualquer ressurgimento do movimento. Foram contabilizadas 74 distribuições de folhetos desde o início de 2016, contra 86 em 2015.
Os Loyal White Knights anunciaram um encontro para o próximo sábado, na Carolina do Norte, ainda sem confirmação de hora e lugar. Ainda que a reunião aconteça, não deve atrair muitas pessoas, considerando-se as últimas manifestações do KKK que não passaram de algumas dezenas de pessoas, segundo Hill.
Para o especialista Mark Potok, do Southern Poverty Law Center, um observatório do extremismo, embora os "nacionalistas brancos" tenham sem dúvida aumentado desde a chegada de Barack Obama à presidência, o KKK, hoje com cerca de 6.000 membros, não tem qualquer possibilidade de renascer. Nos anos 1960, chegou a reunir 40 mil pessoas, e vários milhões, nos anos 1920.
Certamente, para esses arautos da raça branca, a eleição de Trump "abriu um espaço político que lhes permite apresentar suas ideias como legítimas", quando "há 50 anos não são levadas a sério", disse Potok.
Foi o que mostrou a conferência com tons neonazistas realizada em Washington, em 20 de novembro em torno do líder de extrema-direita Richard Spencer.
Mas esses extremistas "intelectuais" que respondem ao novo apelo "alt-right" sentem "desconfiança do Klan", explica Potok.
Segundo ele, com uma história manchada pela violência, os membros do KKK "não podem, como Richard Spencer, pretender que apenas querem defender os direitos dos brancos sem detestar ninguém".
Gary Munker, amante da caça e da pesca, reconhece que desconfia da mensagem da "alt-right".
"Somos cristãos, eles aceitam todo o mundo. Apenas isso já me faz duvidar de sua integridade", afirmou.
Por France Presse