Havana, Cuba-Os líderes da esquerda na América Latina, filhos espirituais da revolução cubana, se somam nesta terça-feira ao luto pela morte de Fidel Castro, uma cerimônia que contará com a presença de dirigentes de outras partes do mundo.
Este segundo dia de uma semana dedicada à memória do pai da revolução cubana começará com um novo ato de reconhecimento na histórica Praça da Revolução, em Havana.
Como na segunda-feira, os cubanos estão convocados a desfilar durante a manhã pelo memorial do herói nacional da independência, José Martí, frente aos retratos de Fidel.
Na véspera, milhares de pessoas prestaram sua última homenagem ao ex-presidente, e também assinavam livros em que juravam conservar a herança socialista que durante meio século conduziu os destinos do país.
Criticado por organismos internacionais e opositores por inúmeras violações aos direitos humanos, Fidel, no entanto, continua venerado por muitos cubanos.
"Tenho 60 anos, a única coisa que conheci foi a revolução. Achei que estava pronto para tudo, mas não. Nenhum cubano estava preparado para perder Fidel fisicamente", afirma Agustín González, agricultor da província oriental de Camagüey.
Na mesma praça, será realizada uma cerimônia às 19H00 local (22H00 de Brasília), para a qual estão convidados diplomatas creditados em Havana e dirigentes estrangeiros.
A esquerda latino-americana será a mais representada com os presidentes do Equador, Rafael Correa; da Bolívia, Evo Morales; da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Nicarágua, Daniel Ortega.
- Mugabe presente, Obama não -
Mas poucos dignitários de outras partes do mundo responderam ao convite: o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apesar de ser o grande defensor da histórica reaproximação iniciada em 2014 entre os dois inimigos da Guerra Fria, comunicou que não irá aos funerais.
Também não irá o francês François Hollande, que será representado por Jean-Pierre Bel, enviado pessoal para a América Latina e ex-presidente do Senado.
Estarão presentes, em compensação, os dirigentes do Zimbábue, Robert Mugabe; da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang; da África do Sul, Jacob Zuma, assim como o ex-rei da Espanha, Juan Carlos, o ex-chanceler alemão Gerhard Schr;der e os vice-presidentes do Irã e da China.
A situação diplomática da ilha comunista continua sendo muito complexa, como ilustra o ameaçador tuíte do presidente americano eleito Donald Trump, que na véspera alertou que poderá acabar com a reaproximação com Havana se Cuba não estiver disposta a fazer um acordo melhor para o povo cubano.
As cinzas do dirigente morto repousam em uma urna de madeira que foi exibida pela TV estatal. O presidente e seu irmão Raúl Castro e altos dirigentes do Partido Comunista honraram sua memória na sala Granma do Ministério das Forças Armadas, junto à Praça da Revolução.
Depois desses atos, entre quarta e sábado, a urna percorrerá cerca de mil quilômetros que separam Havana de Santiago de Cuba, no leste da ilha, atravessando no sentido inverso o caminho feito pelo jovem Fidel Castro durante sua "caravana da liberdade" depois de derrubar o também ditador Fulgencio Batista, em 1959.
Por fim, suas cinzas serão depositadas no domingo no cemitério de Santa Ifigenia de Santiago, que já abriga túmulo de José Martí.
Em virtude do luto nacional de nove dias, foram anulados todos os espetáculos, partidas de futebol, fechadas discotecas e proibida a venda de álcool.
"Não haverá outra pessoa como ele", declarou à AFP Teresa Oqendo, de 84 anos, uma das peregrinas na Praça da Revolução.
Já os dissidentes do regime cubano exilados em Miami optaram pela discrição, por respeito ao luto de seus compatriotas e para evitar serem acusados de provocação.
Mas já advertiram que retomarão a luta contra o regime, a partir de agora encarnado por Raúl, de 85 anos, presidente da ilha desde 2006.
Por France Presse
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