"Não me canso de comemorar, porque parece mentira. Nunca pensei que esse momento fosse chegar", comentou Delsy, que não quis dar seu sobrenome.
Um casal cantava "Guantanamera" com microfone e amplificador, enquanto outros marcavam o ritmo de "La vida es un carnaval" com panelas, e um grupo entoava "Fidel, tirano, leva o seu irmão".
Fidel Castro morreu na noite de sexta-feira (25) em Havana, aos 90 anos, anunciou seu irmão Raúl, atual presidente cubano.
Quinze quarteirões mais ao leste, a boate de salsa Ball & Chain, um clássico entre os locais e parada obrigatória dos ônibus de turismo, oferecia descontos e promovia um novo coquetel: "Adeus Fidel".
O lugar estava abarrotado na noite de sábado. Repleta de bares e de restaurantes cubanos, a rua estava cheia de vida a altas horas da noite, "muito mais do que o normal", segundo a garçonete de um estabelecimento.
Em uma esquina próxima, em frente ao Parque Dominó, onde aposentados cubanos se reúnem todas as tardes para jogar, o futuro da Ilha era o principal tema de discussão.
"Agora, nós, cubanos, temos a esperança de que, sem Fidel, o comunismo dele vai cair e, se Deus quiser, poderemos voltar para o nosso país livre", comentou Vicente Abrez, de 65 anos.
A continuidade de Raúl Castro no poder não desanima os anticastristas que emigraram da ilha.
"Não acho que vai mudar muito, mas é uma luz no fim do túnel, é alguma coisa", disse Leticia Gallo, uma terapeuta de 44 anos que chegou a Miami há sete com um filho pequeno.
Rezando por Cuba
Na Ermita de la Caridad del Cobre, o santuário da padroeira de Cuba, o próprio arcebispo de Miami, Thomas Wenski, celebrou uma missa atipicamente cheia.
"Fidel Castro morreu. Agora lhe caberá o julgamento de Deus, que é misericordioso e também justo", disse o prelado.
"Que Santa Maria da Caridade escute o povo e adiante para Cuba a hora da reconciliação", acrescentou.
Os artistas cubanos também levantaram sua voz. O produtor musical Emilio Estefan, marido da estrela da salsa Gloria Estefan, exclamou: "Por Cuba, um novo amanhecer com um novo sol cheio de esperança".
O músico Willy Chirino participou da festa de Miami no sábado, e os músicos Arturo Sandoval, Paquito D;Rivera e Jon Secada cumprimentaram os exilados cubanos.
Castro "separou nosso povo e fez que nos odiássemos mutuamente", disse Sandoval.
Os políticos também deram seu apoio às comemorações do exilados.
O prefeito de Miami, Tomás Regalado, visitou a manifestação durante a tarde de sábado e justificou o fato de seus compatriotas mostrarem tanta alegria com uma morte.
"Nós, cubanos, temos o direito de comemorar esse dia", disse aos jornalistas, pedindo à comunidade latino-americana "que não critique os cubanos por comemorarem e que entendam o que isso significa".
Em um comunicado, o governador da Flórida, Rick Scott, disse que se unia "aos cubano-americanos de todo o país que estão incrivelmente esperançosos com o futuro de Cuba".
O senador pela Flórida Marco Rubio e Ileana Ros-Lehtinen, representante dos congressistas de origem cubana, conhecidos pelo seu anticastrismo implacável, compartilharam esta visão.
Depois de chamar Fidel de "ditador do mal, assassino" no sábado, Rubio disse hoje à rede CNN que é "patético" que o presidente Barack Obama não tenha mencionado as "milhares e milhares de pessoas que sofreram brutalmente no regime, ou que morreram tentando escapar dele".
Em sua página na Internet, a congressista Ileana Ros-Lehtinen, que representa a área do sul da Flórida onde muitos cubanos exilados vivem, celebrou a morte de Fidel.
"Um tirano está morto e um novo começo pode surgir no último bastião comunista remanescente do Hemisfério Ocidental", publicou.
Segundo o Pew Research Center, há dois milhões de cubanos nos Estados Unidos. Desse total, 68% vivem na Flórida, sendo a maioria em Miami.
Por France Presse
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