Diyarbakir, Turquia - As autoridades turcas detiveram os dirigentes e vários deputados do principal partido pró-curdo da Turquia, horas antes de um ataque com carro-bomba que deixou nesta sexta-feira oito mortos e mais de 100 feridos em Diyarbakir, no sudoeste do país. A detenção na quinta-feira à noite de Selahattin Demirtas e Figen Yüksekdag, que dirigem juntos o Partido Democrático dos Povos (HDP), constitui mais um passo nos expurgos lançados pelo governo desde o golpe de Estado frustrado de julho e que atinge em cheio os setores pró-curdos.
Os copresidentes do HDP, segundo partido da oposição na Turquia, foram apresentados na manhã desta sexta-feira à justiça, que deve decidir se os manterá detidos no âmbito de uma investigação "antiterrorista" vinculada ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), segundo a agência de notícias Anatolia.
Poucas horas depois das prisões, ao menos oito pessoas, entre elas dois policiais, morreram em Diyarbakir na explosão de um carro-bomba em frente a um edifício da [SAIBAMAIS]polícia nesta cidade, que também deixou mais de uma centena de feridos. O ataque foi atribuído pelo primeiro-ministro, Binali Yildirim, ao PKK, uma organização classificada como terrorista por Ancara, Washington e Bruxelas.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, se declarou extremamente preocupada com as prisões e indicou no Twitter que convocará uma reunião de embaixadores da UE em Ancara. Berlim anunciou, por sua vez, que convocou o encarregado de negócios turco.
No total, onze deputados do HDP foram detidos, segundo uma lista divulgada pelo partido e pelo ministério do Interior. Entre eles há importantes figuras, como Idris Baluken, presidente do grupo parlamentar HDP, e Sirri Sureyya Onde, figura respeitada da causa curda. Um deles, Ziya Pir, foi libertado sob controle judicial, informou a imprensa turca. "O HDP convoca a comunidade internacional a reagir contra este golpe do regime (do presidente Recep Tayyip) Erdogan", pediu o partido em sua conta no Twitter.
- Vigilância -
Demirtas e Yüksekdag estão sendo investigados por suas supostas relações com o PKK. Segundo a Anatolia, foram detidos por sua rejeição em comparecer às convocações judiciais. A Turquia está em estado de emergência desde a tentativa de golpe de Estado de julho. Vários países europeus, assim como ONGs, acusam as autoridades turcas de perseguir os opositores e não apenas os supostos golpistas. Um total de 35.000 pessoas foram detidas e dezenas de milhares foram demitidas ou suspensas no âmbito de um imenso expurgo que atinge diferentes setores da administração pública.
No fim de semana passado, os dois prefeitos de Diyarbakir foram detidos por "atividades terroristas" e uma dúzia de meios de comunicação pró-curdos foram fechados por decreto. Estas medidas agravaram a situação no sudeste do país, ensanguentado por combates diários entre o PKK e as forças de segurança desde a ruptura de uma frágil trégua no verão de 2015 que minou um processo de paz destinado a colocar fim a um conflito que já matou mais de 40.000 pessoas desde 1984.
O presidente Recep Tayyip Erdogan considera que o HDP está estreitamente relacionado ao PKK e não acredita que o partido, cujos membros são chamados por ele de "terroristas", seja um interlocutor legítimo.
Por Agência France Presse