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Radha Rani, uma bengalesa na luta contra o casamento forçado de meninas

No mundo, 15 milhões de crianças terão casado em 2016 antes de completar 18 anos, ou seja, uma a cada dois segundos, de acordo com o Unicef



"Uma vez casada, sabia que perderia tudo. Minha liberdade, meus estudos, minha vida", prossegue Radha Rani, hoje uma estudante de 21 anos e porta-voz da campanha contra os casamentos forçados, lançada pela ONG Plano Internacional.

Radha foi apadrinhada por esta associação desde os três anos, e por isto se familiarizou muito cedo com os direitos das crianças e os perigos do casamento forçado.

"Quando estava trancada na casa do meu cunhado, pensava como é possível que eu, que estou sensibilizada e vejo o sofrimento das minhas irmãs, possa suportar algo assim?", acrescentou. Três de suas quatro irmãs foram casadas à força.

No mundo, 15 milhões de crianças terão casado em 2016 antes de completar 18 anos, ou seja, uma a cada dois segundos, de acordo com o Unicef.

No Níger, na República Centro-africana, na Guiné, no Chade e em Bangladesh, os cinco países onde esta prática é mais estendida, 60% das mulheres se casaram antes da maioridade, sobretudo por motivos financeiros.

Uma menina sem estudos não pode apoiar financeiramente sua família e quanto mais difíceis são as condições de vida, maior é a tentação dos pais de casá-las.

;Livrar-se; das meninas


Como consequência disto, as meninas são menos escolarizadas, sofrem mais isolamento, mais risco de mortalidade infantil ou materna, assim como de violência, segundo a Plano Internacional.

"Os pais não estão suficientemente sensibilizados", acrescenta Radha, militante em uma associação local que defende os direitos de mulheres e crianças.

"As meninas têm sonhos, desejos, são o futuro e ninguém presta atenção. No meu país, quando se tem uma filha, não se pensa em outra coisa que se desfazer dela mediante um casamento", explica.

Em Bangaldesh, a lei proíbe o casamento de menores, mas 73% das meninas se casam sem ter completado 18 anos e mais de uma em cada quatro tem entre 12 e 14 anos.

"A lei não se aplica", denuncia a ativista, que lembra que seu país é comandado por uma mulher desde 2009, Sheij Hasina. "Além disso, a pena é mínima, um mês de prisão e multa de 1.000 takas (uns 11 euros)", acrescenta.

Segundo Yvan Savy, diretor da Plano Internacional francesa, 144 países (de 193) não tem nenhuma lei que proíba o casamento de crianças. A ONG milita para que todos adotem um mesmo texto que diga que ;antes dos 18 anos, ninguém se casa;", afirmou.

A viagem de Radha a Paris é a sua primeira ao exterior. Na quarta-feira, ela irá a Bruxelas para fazer um discurso perante as autoridades europeias "e pedir ajuda".

A jovem recebeu sete propostas de casamento. Mas não está certa de que vá se casar algum dia: "sou uma mulher livre, posso tomar minhas decisões".