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Guterres recebe apoio unânime do Conselho de Segurança para dirigir a ONU

De Lisboa, Guterres prometeu que "servirá aos mais vulneráveis" com "humildade e gratidão" quando assumir o cargo

Nações Unidas, Estados Unidos - O Conselho de Segurança da ONU apoiou por unanimidade nesta quinta-feira Antonio Guterres, o ex-primeiro-ministro de Portugal que dirigiu a agência de refugiados da organização durante uma década, como próximo secretário-geral.

[SAIBAMAIS]Em uma reunião a portas fechadas, os 15 membros do Conselho de Segurança adotaram uma resolução que apresenta formalmente Guterres à Assembleia Geral como sua opção para dirigir a ONU.

Aplausos foram ouvidos na sala após a adoção da decisão, que recomenda Guterres como próximo chefe da diplomacia mundial a partir de 1; de janeiro, por cinco anos, disseram à AFP diplomatas presentes na sessão.

De Lisboa, Guterres prometeu que "servirá aos mais vulneráveis" com "humildade e gratidão" quando assumir o cargo.

Trabalharei para proteger "as vítimas de conflitos, de terrorismo, as vítimas da violação dos direitos [fundamentais], as vítimas da pobreza e das injustiças", disse na sede do Ministério de Relações Exteriores português.

Os únicos candidatos da América Latina para substituir o coreano Ban Ki-moon à frente da ONU eram duas mulheres, a chanceler argentina Susana Malcorra e a ex-negociadora da ONU sobre mudanças climáticas Christiana Figueres, da Costa Rica.

Malcorra, que dirigiu o Programa Mundial de Alimentos da ONU e foi chefe do gabinete de Ban antes de ser chanceler do presidente Mauricio Macri, foi vetada pela Grã-Bretanha, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, noticiou o jornal argentino Clarín, citando fontes anônimas.

"Não divulgamos nosso histórico de votações nem nossas intenções de voto", disse à AFP uma porta-voz da missão britânica na ONU, consultada sobre o assunto.

Figueres, que conduziu 195 países a concluir um histórico acordo para enfrentar as mudanças climáticas em Paris em dezembro passado, abandonou sua candidatura em setembro, quando percebeu que só conseguiria um apoio minoritário.

Experiente e franco

Guterres, um político socialista de 67 anos, será o primeiro ex-chefe de governo a se tornar o secretário-geral da ONU. Prometeu mudanças na organização para aumentar os esforços de paz e a promoção dos direitos humanos.

A votação dos 193 Estados membros da Assembleia está prevista para a semana que vem, possivelmente quinta-feira.

Em Roma, Ban assegurou que Guterres "é uma escolha excelente".

"Tem experiência como primeiro-ministro de Portugal. Seu amplo conhecimento dos assuntos mundiais e sua viva inteligência serão muito úteis para a condução da ONU em um período tão crítico", disse.

A eleição de Guterres confundiu alguns diplomatas da ONU que não esperavam que um candidato tão franco e com tanta experiência política ganhasse apoio dos cinco membros permanentes do Conselho: Grã Bretanha, França, China, Rússia e Estados Unidos.

O embaixador da Rússia, Vitaly Churkin, que preside o Conselho de Segurança este mês, disse a jornalistas após a votação que Guterres "é uma ótimo opção".

Como Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Guterres percorreu o mundo e observou em primeira-mão "os conflitos mais espantosos que temos que enfrentar", disse.

Churkin citou também a experiência de Guterres como primeiro-ministro e o descreveu como "uma pessoa que fala para todo mundo, que diz o que pensa, uma pessoa muito aberta, muito extrovertida".

Guterres deve enfrentar uma longa lista de crises mundiais urgentes ao assumir seu novo posto em janeiro, junto com demandas para grandes reformas na organização, considerada muito lenta para responder às emergências.

A guerra na Síria, em seu sexto ano, ocorre em meio a profundas divisões no Conselho entre Rússia, que apoia o presidente sírio Bashar al-Assad, e as potências ocidentais que apoiam os rebeldes opositores.

Com um recorde de 65 milhões de pessoas deslocadas no mundo, a ONU luta para fornecer ajuda humanitária e garantir a proteção dos direitos dos refugiados.

Mais mulheres na ONU?

Guterres, que foi primeiro-ministro de Portugal de 1995 a 2002 e Alto Comissário da ONU para os Refugiados até dezembro passado, conseguiu o primeiro lugar em todas as votações informais feitas pelo Conselho de Segurança.

Treze candidatos aspiravam ao posto de secretário-geral. Sete eram mulheres, que se apresentaram para o cargo num momento em que pediam que uma mulher liderasse a diplomacia mundial pela primeira vez em seus 70 anos de história.

"Para nós fica uma questão pendente sobre gênero", tuitou a chanceler argentina Malcorra na quarta-feira, após o grande apoio do Conselho a Guterres.

O ex-primeiro-ministro de Portugal prometeu garantir a igualdade de gênero na ONU, uma meta ambiciosa já que atualmente as mulheres só ocupam 25% das posições de maior liderança.

Muitos esperam que uma mulher seja designada como secretária-geral adjunta, número dois de Guterres.