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Santos se reúne com oposição e afirma que paz na Colômbia está 'próxima'

Presidente destacou sua decisão de "buscar caminhos para a união e a reconciliação" e agradeceu Uribe e o também ex-presidente Andrés Pastrana por sua "disposição" de salvaguardar o processo de paz

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, artífice do acordo de paz com as Farc, se disse otimista nesta quarta-feira (5/10) com a possibilidade do fim do conflito armado no país, após se reunir com a oposição.

"A paz na Colômbia está muito próxima e vamos alcançá-la", declarou Santos na presidencial Casa de Nariño, após se reunir com seu predecessor e líder da oposição Álvaro Uribe, que liderou a vitória do "Não" no referendo sobre o acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Santos destacou sua decisão de "buscar caminhos para a união e a reconciliação" na Colômbia, e agradeceu Uribe e o também ex-presidente Andrés Pastrana, outro defensor do "Não", por sua "disposição" de salvaguardar o processo de paz.

"Com os defensores do Não" identificamos que muitas de suas preocupações estão em pontos (do acordo de paz) que exigem esclarecimentos ou precisões. Hoje mesmo começamos a trabalhar para acertar estes pontos e responder às suas preocupações", declarou Santos sobre o acordo firmado com as Farc em 26 de setembro, após quase quatro anos de negociações em Cuba.

"Tudo isto deverá, como é natural, ser tratado com a delegação das Farc em Havana".

No dia seguinte ao referendo, Santos enviou o chefe dos negociadores do governo, Humberto de la Calle, e o Alto Comissário para a Paz, Sergio Jaramillo, para se reunir com os representantes das Farc em Havana.

Segundo Santos, o diálogo com a oposição tem o propósito de "atender, na medida do possível, suas observações e propostas de ajuste para se encontrar um caminho que não apenas culmine com a aprovação do acordo de paz, mas que também o fortaleça".

Uribe declarou ao final da reunião que "é melhor uma paz para todos os colombianos do que um acordo fraco para a metade dos cidadãos".

O ex-presidente disse aos jornalistas que na reunião com Santos foram analisados "ajustes e propostas iniciais, que deverão ser introduzidas nos textos de Havana para se buscar um novo acordo de paz, que vincule a totalidade dos colombianos".

Entre os ajustes Uribe mencionou "a necessidade" de que o grupo rebelde "cesse todos os crimes" e que o governo garanta a segurança de seus membros. O ex-presidente defendeu ainda "soluções jurídicas imediatas" para os guerrilheiros rasos não ligados a crimes contra a humanidade.

Uribe defendeu ainda um "alívio judicial, sem impunidade", para os integrantes da força pública denunciados por crimes durante o conflito armado, e reafirmou suas "preocupações" com a "impunidade total" e a "elegibilidade política" de guerrilheiros responsáveis por crimes atrozes.

"O resultado de domingo rejeitou os acordos, mas reafirmou o desejo unânime de paz", acrescentou Uribe, que solicitou o acompanhamento das Nações Unidas e a "compreensão e o apoio" da comunidade internacional a este processo.

Após a vitória do "Não", os diálogos entre os distintos setores políticos do país em prol da paz devem ocorrer "com ausência de violência", concluiu o ex-presidente.

Pastrana qualificou sua conversa com Santos de "muito produtiva" e defendeu a ativação, de "maneira imediata", das zonas de concentração de membros das Farc previstas no acordo em Havana.

"Com a verificação das Nações Unidas e a proteção dos militares, os guerrilheiros das Farc terão a tranquilidade de que vamos avançar neste processo", declarou Pastrana.

O acordo de paz prevê que os 5.765 combatentes das Farc se reagrupem em 27 pontos para seu desarmamento e posterior reintegração à vida civil, em um processo com verificação das duas partes e da ONU.

Mas a vitória do "Não" no referendo gerou incerteza sobre o que ficou acertado, em particular envolvendo o cessar-fogo bilateral e definitivo observado desde 29 de agosto.

A Colômbia vive um conflito armado há mais de 50 anos - envolvendo guerrilheiros, paramilitares e a força pública - que deixou 260 mil mortos, 45 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.