Washington, Estados Unidos - Donald Trump e Hillary Clinton retomaram nesta terça-feira (27/9) a campanha pela Casa Branca depois de travar na véspera um combate de insultos e críticas no primeiro debate presidencial, no qual a aspirante democrata se saiu melhor.
A ex-secretária de Estado e o magnata imobiliário se enfrentaram sobre suas propostas em torno da economia e do Estado Islâmico, mas também sobre resistência e temperamento em um show televisivo observado por dezenas de milhares de espectadores. O áspero debate, o primeiro de três confrontos antes das eleições de 8 de novembro, não terminou com um vencedor categórico, mas foi Hillary quem pareceu sair em vantagem.
Em uma pesquisa instantânea da CNN entre 521 eleitores, 62% consideraram que Hillary venceu o debate, contra 27% que se inclinaram por Trump. Os principais analistas, por sua vez, concordaram que a candidata democrata teve um desempenho melhor. Nate Silver, um respeitado analista da FiveThirtyEight.com, considerou que o debate dará entre 2 e 4 pontos de apoio a Hillary, enquanto as últimas pesquisas indicavam um empate virtual nas intenções de voto.
Mas em uma campanha que desafia constantemente as convenções, ainda é cedo para determinar se o duelo verbal de 90 minutos rompeu a paridade dos candidatos nas pesquisas a seis semanas das eleições. A ex-secretária de Estado planeja participar de um comício na Carolina do Norte, enquanto Trump falará aos seus seguidores no estado chave da Flórida.
- Troca de farpas -
No debate realizado no auditório da universidade Hofstra, perto de Nova York, Hillary criticou a idoneidade de Trump para ser presidente, afirmando que o empresário lançou sua campanha sobre a "mentira racista" de que o presidente Barack Obama não é um cidadão americano. "Você vive em sua própria realidade", disse a ex-senadora de 68 anos, tentando projetar uma imagem de seriedade e experiência.
Por sua vez, Trump se mostrou como um "outsider", apelando para o cansaço da [SAIBAMAIS]classe trabalhadora com os políticos tradicionais. "Hillary tem experiência, mas é ruim, experiência ruim", disse o milionário de 70 anos, acusando-a de provocar um "caos completo" no Oriente Médio durante sua atuação como secretária de Estado.
"Pura conversa, zero ação. Soa bem, não funciona", disse. O debate também foi eloquente nos temas que passaram inadvertidos, como a imigração ou as mudanças climáticas. No encontro, Hillary não citou o muro fronteiriço de Trump ou seu plano para deportar 11 milhões de imigrantes ilegais, e o republicano não criticou a ex-primeira-dama por ter chamado de "deploráveis" a metade de seus seguidores, nem pela polêmica sobre a Fundação Clinton.
- Reações -
À medida que o duelo avançava, Trump recorreu a sua retórica característica, interrompendo repetidamente Hillary e gritando "mentira" sobre as afirmações de sua concorrente. Aparentemente irritado, em certo momento virou os olhos emitindo um "ugh" de frustração. "Muitos americanos lembrarão do programa desta noite e verão uma pessoa que está preparada para ser presidente dos Estados Unidos enfrentando um impostor", afirmou John Hudak, membro do Brookings Institution.
"Não se viu um desempenho perfeito de Hillary Clinton, mas um desempenho imperfeito, como se podia prever, de seu oponente", declarou à AFP. Os principais meios de comunicação americanos pareceram se inclinar pela candidata democrata. "Interrompendo, gritando (...) e lançando suas advertências de que emprego, terrorismo, Nafta (acordo comercial da América do Norte), China e tudo é terrível, Trump disse muito", afirmou o The New York Times.
Mas "dificilmente poderia contra uma oponente que tinha maior equilíbrio e estava mais preparada que qualquer um dos republicanos que enfrentou nas primárias", acrescentou. O The Washington Post considerou que Trump "cinicamente ou por ignorância vende uma visão distorcida da realidade", enquanto Hillary é uma "política imperfeita, mas conhecedora, segura e moderada".
Cada grupo ofereceu uma avaliação otimista do debate. "Donald Trump ofereceu a honestidade e a contundência", disse seu companheiro de chapa, Mike Pence, nesta terça-feira à CNN. "Ele parecia mais desconcertado à medida que o debate avançava, então penso que a mostrou como preparada para ser comandante em chefe e presidente", disse Tim Kaine, companheiro de chapa de Hillary, à ABC.
- Latinos buscam informação -
Durante o debate, as buscas no Google por "se registrar para votar" em espanhol dispararam acima das 100.000 e se converteram na terceira frase de busca nos Estados Unidos, disse o The Washington Post. O interesse por informação em espanhol sobre votação não chegava a estes níveis desde 2012, embora nisso possa ter incidido o fato de que o Google instalou janelas que oferecem informação sobre como votar em cada estado nestas eleições.
Os eleitores latinos, 11,9% do total da lista eleitoral, devem votar em massa por Hillary em novembro, segundo as pesquisas. Uma pesquisa do New Latino Voice situou o apoio dos eleitores latinos a Trump em 10,7%, contra 76,8% para a democrata.