Duas mulheres radicalizadas, de 17 e 19 anos, residentes em Nice, sul da França, e suspeitas de preparar um atentado foram detidas, informou a polícia neste domingo.
Uma investigação iniciada em 9 de setembro permitiu estabelecer que as duas estavam em contato com Rachid Kassim, o propagandista e recrutador do grupo Estado Islâmico (EI), que regularmente faz convocações para cometer assassinatos através do aplicativo de mensagens Telegram.
"Ela admitiram que visavam a uma ação violenta, sob influência de Rachid Kassim", afirmou uma fonte ligada ao caso.
Em 14 de julho, em Nice, Mohamed Lahouaiej Bouhlel, um tunisiano de 31 anos, atropelou uma multidão com um caminhão causando 86 mortos e 434 feridos.
Nas últimas semanas, várias pessoas, entre elas três adolescentes, foram presas por ameaças de ataques similares sob influência da propaganda de Kassim.
O francês Rachid Kassim, um jovem de 29 anos que viajou para ajudar na jihad, inspirou a partir da Síria vários ataques na França e se tornou uma prioridade para os serviços de inteligência.
As instruções enviadas por Kassim pelo Telegram foram seguidas ao pé da letra por um grupo de mulheres que tentou, sem sucesso, explodir um veículo com botijões de gás no início de setembro no centro de Paris.
Nascido em Roanne, no sudeste da França, o ex-rapper aparece em várias investigações sobre atentados ou projetos de ataques na França, segundo uma fonte oficial.
Ele "inspirou" o assassinato em junho de um policial e sua companheira na região de Paris e "deu instruções diretas" aos dois assassinos de um padre em uma igreja na Normandia (norte) no fim de julho, segundo a mesma fonte.
Seu nome também foi mencionado por uma adolescente, detida no início de agosto, que estava a ponte de cometer um atentado. O mesmo aconteceu com outra jovem radicalizada, detida mês passado depois de escrever mensagens violentas no Telegram.
Kassim também teria "guiado à distância" um adolescente de 15 anos, detido no sábado passado em Paris, a respeito de um potencial projeto de atentado.
"Há seis meses ainda era um desconhecido", afirmou uma fonte próxima às investigações. Parece que atua "fora da linha oficial do Estado Islâmico, mas o EI permite que atue porque conquistou uma notoriedade importante e porque muitos aspirantes a jihadistas se dirigem a ele", disse a fonte policial.
Kassim foi criado por sua mãe em um bairro popular de Roanne. O jovem, descrito como alguém que não apresentava problemas, trabalhou entre 2010 e 2012 com adolescentes.
Ele cresceu em uma família pouco praticante da religião, mas seu discurso mudou em 2011.
"Ele se radicalizou na internet e tentou aproximar os jovens do islã radical", disse à AFP Abdennour Bentoumi, secretário-geral de uma mesquita de Roanne.
"Vários fiéis ameaçaram denunciá-lo se não fosse embora", conta.
Kassim gravou um álbum de rap, "Premi;re arme" ("Primeira arma"), que incluía duas canções premonitórias: "Je suis terroriste" ("Eu sou terrorista") e "Rap attentat" ("Atentado rap").
Ele sumiu durante algum tempo, mas ressurgiu no fim de 2015 no Facebook, onde glorificava a guerra santa. Sua página, denunciada às autoridades, foi fechada.
Mas agora Kassim utiliza seu canal privado no Telegram, onde tem mais de 300 seguidores. Em suas mensagens ele estimula os atentados e explica o ;modus operandi;, além de apresentar uma lista de alvos.
Em julho apareceu em um vídeo de propaganda do EI, com barba e turbante na cabeça, no qual prestou homenagem ao autor do atentado de Nice, que deixou 86 mortos.