A luta contra o tráfico de elefantes e rinocerontes, ameaçados por uma caça clandestina alimentada em grande medida pela demanda da Ásia, dominará a conferência mundial sobre a fauna e a flora inaugurada neste sábado em Johannesburgo.
Segundo as ONGs, esta nova reunião da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (Cites), que se reúne a cada três anos para regular o comércio de animais e plantas, é fundamental.
"Em momentos em que tantas espécies estão gravemente ameaçadas por uma caça clandestina insaciável e pelo comércio, a reunião terá um poder de vida ou de morte sobre animais emblemáticos como os elefantes, os rinocerontes, os leões e os pangolins", adverte Teresa Telecky, da Humane Society International.
Ou os 182 países membros da Cites "se põem de acordo para protegê-los ao máximo", ou eles "podem desaparecer", advertiu, em referência aos 3.500 delegados que participarão do encontro até 5 de outubro.
A caça ilegal alimenta um tráfico extremamente lucrativo avaliado em 20 bilhões de dólares por ano, segundo a Cites, fazendo dele o quarto comércio ilegal do mundo depois do de armas, de falsificações e de seres humanos.
Os rinocerontes e os elefantes, cobiçados pelos seus chifres e marfim, respectivamente, pagam o preço mais alto.
Três rinocerontes morrem a cada dia pelos seus chifres, segundo a organização mundial de proteção da natureza WWF. Nos últimos oito anos, mais de 5.000 - ou seja, um quarto da população mundial -, morreram na África do Sul, onde vivem 80% desses mamíferos.
Seus chifres, compostos de queratina como as unhas humanas, são muito procurados na Ásia, onde a medicina tradicional atribui a eles propriedades terapêuticas e afrodisíacas. No mercado negro, o quilo custa até 60.000 dólares, sendo mais caro que o do ouro.
A população de elefantes que vive nas savanas da África caiu 30% entre 2007 e 2014, vítima essencialmente da caça clandestina, segundo um censo recente.
Em Johannesburgo, "o essencial da atenção internacional se focará no marfim de elefantes africanos e nos chifres de rinocerontes brancos do sul", resumiu o secretário-geral da Cites, John Scanlon.
O comércio internacional de chifres de rinocerontes e de marfim é oficialmente proibido desde 1977 e 1989, respectivamente.
Mas as medidas não conseguiram frear os massacres, até o ponto em que alguns analisam legalizar os comércios - aos seus olhos, única forma de reduzir a caça clandestina.
Em Johannesburgo, o pequeno reino da Suazilândia vai propor suspender a proibição do comércio de chifre dos "seus" rinocerontes.
Legalizar?
O pequeno reino tem o apoio dos criadores desses mamíferos. Sua proteção "nos custa uma verdadeira fortuna. (...) Não é sustentável", afirmou à AFP uma criadora da África do Sul, Lynne MacTavish.
A proposta da Suazilândia tem poucas chances de prosperar. As ONGs combatem firmemente a ideia e temem que a suspensão da moratória alimentaria mais ainda a demanda.
Zimbábue e Namíbia pedirão que se suspenda a proibição do comércio de marfim para poder vender no mercado seus estoques de marfim confiscado ou proveniente de elefantes mortos por causas naturais.
O dinheiro desta venda "lhes permitiria continuar o trabalho de conservação" dos animais, disse à AFP a ministra do Meio Ambiente sul-africana, Edna Molewa, que apoia a proposta desses dois países da África austral.
A Cites deve estudar a possibilidade de flexibilizar ou endurecer as restrições comerciais relativas a cerca de 500 espécies de fauna e flora no total.
Espera-se intensos debates sobre a proteção do pau-rosa, dos tubarões ou dos pangolins, mamíferos noturnos com o corpo coberto de escamas.
Em uma década, mais de um milhão de pangolins, muito buscados pela sua delicada carne e seus órgãos utilizados na medicina tradicional, desapareceram, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Atualmente, o comércio desta espécie é legal, mas sob condições estritas.
Os países do sudeste asiático, grandes consumidores de algumas dessas espécies ameaçadas, estarão sob forte pressão durante a conferência.
A "explosão da demanda no Vietnã" é a razão principal do auge do comércio de chifres de rinoceronte, denuncia a WWF, que pede à Cites que "adote uma posição mais dura" contra estes países, que possa chegar até sanções econômicas.