Jornal Correio Braziliense

Mundo

Batendo panelas, oposição vai às ruas na Venezuela contra Maduro

Em Caracas, os manifestantes chegaram de cinco ponto até a Avenida Libertador, liderados por dirigentes da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD)

Caracas, Venezuela - A oposição venezuelana protestou com um "panelaço" nesta sexta-feira para exigir um referendo revogatório do mandato do presidente Nicolás Maduro, diante de novos adiamentos no trâmite da consulta por parte do organismo eleitoral.

[SAIBAMAIS]Em Caracas, os manifestantes chegaram de cinco ponto até a Avenida Libertador, liderados por dirigentes da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD).

Um forte esquema policial ocupou a região, sem que ocorresse incidentes.



"Quanto mais retardarem (o processo de referendo) mais ficaremos com raiva", disse à AFP Robert Sánchez, um administrador de 41 anos, enquanto batia panela.

Embora estivesse convocado desde o início de setembro, o protesto nacional se converteu em uma nova expressão de rejeição depois que o Poder Eleitoral adiou o anúncio sobre a data em que poderão ser recolhidas as assinaturas necessárias para convocar o povo às urnas.

O secretário executivo da MUD, Jesús Torrealba, declarou à AFP que o protesto é uma resposta à "ofensa" que representa o "silêncio" do CNE sobre o referendo.

"O silêncio é um desrespeito com o direito do povo venezuelano de construir uma solução pacífica, eleitoral, constitucional e democrática a este drama".

Henry Ramos Allup, presidente do Parlamento de maioria opositora, proclamou o "sucesso" da jornada, destacando que não se pode comparar com o 1; de setembro, quando a MUD garantiu ter colocado um milhão de pessoas em Caracas.

"Todos os eventos não podem ser deste tamanho (...). Diante de tudo e superando os obstáculos, as ameaças (...), o povo foi às ruas para se manifestar, defender seu referendo".

Ramos Allup disse que o objetivo é exigir que o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) "não continue sabotando" a realização do revogatório neste ano.

O dirigente denunciou que o governo ordenou bloquear os acessos a Caracas para impedir a entrada de manifestantes.

Na véspera do protesto, o CNE adiou por "ameaças" o anúncio que deveria realizar nesta sexta-feira sobre a data e as condições para a coleta das quatro milhões de assinaturas (20% do total de eleitores).

O CNE - acusado pela oposição de estar sob o controle do governo - alegou que os protestos colocam em risco seus funcionários e disse que retomará a análise deste tema na próxima segunda-feira, embora não tenha especificado se neste dia fará um pronunciamento definitivo.

Chavismo de pé


Como sempre ocorre, o chavismo convocou contramanifestações, desta vez para diante da principal sede do CNE, no centro de Caracas, onde também ocorreu uma caravana de motociclistas vestidos de vermelho.

"Hoje, novamente venceu a paz diante da chantagem da direita. Foi uma demonstração da nossa capacidade de mobilização", destacou o deputado Elías Jaua.

O protesto opositor foi batizado de "cúpula do povo contra a fome e pelo revogatório", em referência à Cúpula dos Países Não Alinhados (NOAL), que ocorre na Ilha Margarita, no Caribe.

Os protestos contra Maduro ocorreram ainda em cidades como Maracaibo e San Cristóbal.

Afetada pela queda das receitas do petróleo, a Venezuela sofre uma crise econômica refletida em uma escassez de 80% dos alimentos e remédios, segundo estudos privados, e a inflação mais alta do mundo, que o FMI projeta em 720% para 2016.

As mobilizações ocorrem após dois dias de protesto, em 1 e 7 de setembro, para exigir o revogatório. O primeiro reuniu um milhão de pessoas em Caracas, segundo a MUD, embora o governo afirme que compareceram apenas dezenas de milhares, e que neste mesmo dia mobilizou meio milhão de chavistas.

Foram as maiores manifestações desde as de 2014 contra Maduro, que deixaram 43 mortos.

"Nicolás não sairá e continuará sendo presidente com panela ou sem panela", disse na quinta-feira o número dois do chavismo, Diosdado Cabello.