A Turquia e as forças curdas no norte da Síria alcançaram um "acordo frágil" para conter os confrontos entre ambos, no momento em que se completa uma semana do início da ofensiva de Ancara no país vizinho.
A trégua foi anunciada nesta terça-feira (30) pelo porta-voz do Comando Central, coronel John Thomas, e por milícias curdas no norte da Síria, mas não foi confirmada por Ancara.
"Nas últimas horas, nos asseguraram que todas as partes envolvidas vão parar os disparos e se concentrar na ameaça do Isil", afirmou o coronel Thomas, referindo-se ao grupo Estado Islâmico (EI).
"É um acordo frágil por, pelo menos, os próximos dois dias, e esperamos que se consolide", acrescentou.
Os Estados Unidos tentam conter o aumento da violência entre as forças turcas e as milícias curdas das Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG) que operam em Jarabulus, cidade fronteiriça da Síria, e seus arredores.
Ambas as partes são apoiadas por Washington, enquanto a Turquia é um aliado-chave na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
É um cenário desanimador para o Pentágono, que baseou sua esperança de derrotar o EI na Síria nas Forças Democratas Sírias (SDF), lideradas pelos curdos, e investiu grandes quantias para treinar e equipar o grupo.
Thomas chamou de "animador" o acordo para deter esses confrontos.
O "Conselho Militar de Milícias de Jarabulus", que conta com o apoio dos SDF, confirmou que há uma trégua.
"Chegamos a um acordo para um cessar-fogo com o Estado turco, a pedido dos Estados Unidos e da coalizão internacional", que está lutando contra o EI, disse o porta-voz do comando, Ali Hajo.
Por telefone, Hajo afirmou que a trégua começou à 00h local (18h de segunda-feira, no horário de Brasília) e que se espera que "dure por um período de tempo não estabelecido".
"Estamos continuamente negociando (com as forças turcas) com a mediação dos americanos", completou, sem dar mais detalhes.
Nesta terça, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) disse que a situação se estabilizou em Jarabulus, posição que as tropas turcas conseguiram capturar os extremistas do EI no primeiro dia da ofensiva em território sírio que lançaram na quarta-feira passada (24).
Ancara não confirmou, nem negou a situação. O governo disse esperar que os curdos cumpram a promessa feita aos Estados Unidos de se retirarem para o leste do Eufrates "o quanto antes".
Na segunda-feira, o vice-primeiro-ministro turco, Numan Kurtulmus, disse que o objetivo do Exército é "limpar a região do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) e impedir" que os curdos "estabeleçam um corredor de lado a lado" da fronteira, o que "dividiria a Síria".
Ancara considera o partido curdo sírio PYD (Partido da União Democrática) e seu braço militar, as YPG, como organizações "terroristas". Já os Estados Unidos - aliado da Turquia na Otan - apoiam os curdos da Síria, ao considerá-los como os mais eficazes combatentes contra o EI.
Ontem, a Turquia advertiu que lançará mais bombardeios contra os curdos do YPG na Síria, se eles não se retirarem.
Os analistas consideram, porém, que há muitos riscos latentes para a Turquia, caso se envolva mais na guerra civil síria e caso enfrente as YPG, elevando a tensão com Washington.