Kiev, Ucrânia - A Ucrânia acusou a Rússia nesta sexta-feira de estimular confrontos em seu território, quando a comunidade internacional busca aliviar as tensões entre ambos os países que se enfrentam pela península da Crimeia - território ucraniano anexado por Moscou em 2014.
[SAIBAMAIS]"O inimigo faz provocações maciças na linha de frente no leste da Ucrânia, seguidas de acusações de que a parte ucraniana não respeita os acordos de Minsk", declarou o escritório de inteligência militar ucraniana em sua página no Facebook.
A Ucrânia está com suas tropas em estado de alerta na linha de demarcação entre a Crimeia e o leste do país, depois que a Rússia afirmou ter desbaratado "atentados" planejados por Kiev na península.
Os serviços de inteligência russos acusam o governo ucraniano de ter organizado várias incursões de "sabotadores-terroristas" que causaram confrontos armados e a morte de um militar russo e de um agente do FSB (antigo KGB, o serviço de segurança federal), segundo Moscou.
Nesta sexta-feira, Moscou anunciou a colocação de seu sistema mais avançado de mísseis de defesa antiaérea S-400 na Crimeia.
Um comunicado do distrito militar sul da Rússia, citado por agências de notícia russas, indicou que as tropas russas "receberam o sistema de defesa antiaérea S-400 ;Triumph;".
Em julho, um alto funcionário russo anunciou a instalação do S-400 de maneira permanente no leste da península a partir de agosto. Este sistema de defesa antiaérea tem um alcance, teoricamente, de 400km.
Uma situação "alarmante"
Diante da crescente tensão, os Estados Unidos declararam-se na quinta-feira "extremamente preocupados" e pediram aos dois lados que evitem uma nova escalada da violência.
O ministro francês de Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault, falou sobre "a importância para a Ucrânia e Rússia de resolverem, mediante o diálogo, as recentes tensões à respeito da situação na Crimeia".
"É um novo passo até a saída da lógica do processo político e um passo até a lógica do confronto militar", declarou na quinta-feira à AFP o representante para a Rússia do governo alemão, Gernort Erler.
"Tudo isso é muito alarmante", acrescentou.
O ministro russo de Relações Exteriores, Serguei Lavrov, pediu aos países ocidentais que tivessem atenção com Kiev a respeito de "suas medidas perigosas que poderiam ter consequências mais do que negativas".
A Ucrânia desmente firmemente as acusações russas. Durante uma sessão a portas fechadas do Conselho de Segurança da ONU, o país pediu à Rússia que prove tais acusações.
Nesta sexta-feira, o secretário do Conselho de Segurança Nacional ucraniano, Olexandre Turchinov, acusou Moscou de tentar encobrir os tiroteios entre suas tropas, que "habitualmente abusam do álcool", indicou o funcionário.
Na quarta-feira, Vladimir Putin pediu aos ocidentais que "pressionem" as autoridades de Kiev "se quiserem realmente alcançar um ajuste pacífico" para o conflito ucraniano, que já causou mais de 9.500 mortes.
O presidente russo advertiu que nestas condições um encontro no "formato Normandia", que reunirá durante o fórum do G-20 na China o presidente ucraniano, Petro Poroshenko, a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente francês François Hollande, e representantes de Moscou, não tem "nenhum sentido".
A Crimeia foi anexada pela Rússia em março de 2014 após uma intervenção militar seguida de um referendo de incorporação, denunciado como ilegal por Kiev e pelos países ocidentais.
Esta anexação provocou as maiores tensões entre as potências ocidentais e a Rússia desde o fim da Guerra Fria, causando uma onda de sanções europeias e americanas contra Moscou.
A mediação internacional geriu o acordo de paz em fevereiro de 2015, assinado em Minsk, que até agora só conquistou uma diminuição na intensidade dos combates no leste da Ucrânia, onde separatistas pró-Rússia e tropas ucranianas se enfrentam.