O jovem canadense morto na quarta-feira (10) à noite pela polícia se preparava para cometer um atentado nas 72 horas seguintes e havia jurado fidelidade ao grupo Estado Islâmico (EI) em um vídeo interceptado poucas horas antes pelo FBI, a Polícia Federal americana.
Por volta das 16h30 (17h30 de Brasília) de quarta-feira, Aaron Driver, um canadense de 24 anos, "saiu de uma casa" na localidade de Strathroy, 225 km ao sul de Toronto, antes "de entrar em um táxi que acabava de chegar".
A polícia tentou interceptar o veículo quando uma explosão ocorreu dentro do táxi, ferindo levemente o motorista.
"O suspeito foi morto durante o confronto com a polícia", declarou o comissário interino da Polícia Montada canadense (GRC), Mike Cabana.
O jovem "procurava um local muito frequentado" para realizar seu ataque, ressaltou, indicando que nesse estágio da investigação nada indica que ele teria um cúmplice.
"Esse incidente preocupante serve para nos lembrarmos de que o Canadá não é imune à ameaça de terrorismo", disse o ministro de Segurança Pública, Ralph Goodale.
"Sempre se requer uma vigilância incansável", completou, acrescentando que o governo criará um órgão para enfrentar a radicalização e, no final do mês, fará consultas para reformar o sistema de segurança.
Aaron Driver apareceu nos radares da polícia e dos serviços de Inteligência canadenses em outubro de 2014, quando justificou nas redes sociais o gesto de uma jovem radicalizada que matou um soldado que fazia guarda em frente ao monumento dos mortos de Ottawa.
Naquele momento, Driver já havia se convertido ao Islã, apesar de ter nascido em uma família católica da província de Saskatchewan, no oeste do país.
Driver foi preso em junho de 2015 e ficou sob a supervisão da Justiça, depois que a polícia recebeu denúncias de postagens extremistas nas redes sociais.
Ele foi ordenado a buscar aconselhamento com um líder religioso, a usar uma pulseira eletrônica de monitoramento e a não utilizar a Internet, mas não estava sendo vigiado, segundo a polícia.
Essas restrições estavam sendo gradativamente retiradas e iriam expirar neste mês.
Vídeo de ameaças
Antes disso, um vídeo em que jurava lealdade ao grupo Estado Islâmico foi descoberto pelo FBI, que o enviou às autoridades canadenses.
Mike Cabana indicou que havia recebido o informe do FBI, incluindo "um vídeo de martírio preparado por um indivíduo que, naquele momento, não era conhecido por nós, mas claramente estava nos estágios finais da preparação de um ataque usando bombas caseiras".
No vídeo, um sujeito vestido de preto e com o rosto coberto adverte o governo do Canadá que deve responder por seu apoio à coalizão internacional contra o EI.
"Têm uma grande dívida a pagar, e suas mãos estão manchadas de sangue muçulmano", afirma o rapaz, antes de declarar sua lealdade ao Estado Islâmico.
Com base nessa informação, a polícia acreditou que o ataque era possível "dentro das 72 horas seguintes" em uma "área urbana", afirmou Cabana.
A polícia e os especialistas em contraterrorismo rapidamente identificaram o homem no vídeo como Driver.
Poucas horas antes da morte do suspeito, a agência de transporte público de Toronto (TTC) havia sido informada pelas autoridades de uma "ameaça terrorista crível", disse o porta-voz da agência, Brad Ross, ao canal CTV, nesta quinta-feira (11).
A presença policial foi reforçada nas linhas de transporte comum da maior cidade canadense, utilizadas diariamente por 1,8 milhão de pessoas.
Na quarta à noite, as forças da ordem alertaram os canadenses para uma "potencial ameaça terrorista", sem fornecer maiores detalhes.
"As forças de ordem fizeram o que deveriam fazer. Ele não queria se render", declarou o militar da reserva, após ser informado pela polícia sobre a morte de seu filho.
"Lobos solitários"
Um familiar de Driver entrevistado pela CBC sob condição de anonimato indicou que as autoridades comunicaram à família que o jovem foi abatido quando se preparava para detonar uma bomba.
Após os ataques de 2014, o governo conservador da época ampliou os poderes da polícia para frustrar planos de atentados e impedir a partida de jovens radicalizados que buscassem se somar às fileiras do EI na Síria.
Nessa época, quando Driver vivia na casa da família em Winnipeg (Manitoba), "se movia em grande sigilo, como um lobo solitário, nenhum amigo ia a sua casa, nunca dizia para onde ia, ou o que fazia", disse em 2015 à rede pública de televisão CBC seu pai, que na época já temia que seu filho se convertesse em um "extremista radical".
Aaron Driver justificou essas atitudes de outra forma na mesma reportagem: "o que acontecia na Síria te rebelava e ao mesmo tempo te partia o coração, e acredito que, se a pessoa sabe o que acontece, deve fazer algo".
No entanto, na ocasião afirmou que não via nenhum motivo para que "os canadenses pensem que sou uma ameaça".
O Canadá se somou em setembro à coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos para combater o EI.
O país reduziu seu envolvimento no conflito após a chegada ao poder em 2015 dos liberais de Justin Trudeau, que ordenou a retirada dos aviões caça da zona, embora tenha aumentado o número de instrutores militares canadenses no Iraque.
Trudeau reafirmou em várias ocasiões o compromisso de seu governo "na luta contra o terrorismo sob todas as suas formas".