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Juiz ordena prisão da líder das Mães da Praça de Maio na Argentina

O juiz Marcelo Martínez de Giorgi, encarregado do caso, ordenou a detenção

Um juiz ordenou nesta quinta-feira a detenção da líder da organização argentina Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, que se negou a se apresentar para depor ante a justiça pela segunda vez em um caso de suposto desvio de recursos públicos. O juiz Marcelo Martínez de Giorgi, encarregado do caso, ordenou a detenção, confirmou à AFP seu secretário, depois que Bonafini, de 87 aos, se negou a comparecer perante tribunal. "Se tiverem que me prender, que me prendam", desafiou a veterana ativista apoiada por uma multidão na praça de Buenos Aires, onde marcha há 40 anos pedindo justiça pelos filhos desaparecidos na ditadura militar argentina (1976-83). A ordem de detenção coincidiu com a hora em que, toda quinta-feira, as idosas entram em uma caminhonete para percorrer 3 km até a Praça de Maio, no centro, onde, com as cabeças cobertas com lenços brancos, fazem uma emotiva caminhada com uma grande bandeira, que este ano traz os dizeres: "a falta de trabalho também é um crime". "Poderão nos prender, mas não poderão prender o pensamento", disse Bonafini a centenas de seguidores e vários ex-ministros do gabinete da ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015), que se aproximaram para acompanhar este 'símbolo' argentino, que divide a sociedade entre o amor e o ódio à sua figura. O juiz Martínez de Giorgi investiga supostas irregularidades no mecanismo de construção de moradias sociais do programa Sonhos Compartilhados das Mães da Praça de Maio, que contou com financiamento do Estado durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner (2003/2015). O programa, um gigantesco empreendimento que construía milhares de casas, escolas e centros médicos em bairros carentes, foi cortado em 2011 após um escândalo causado por denúncias de corrupção envolvendo o plano que chegou a administrar 170 milhões de dólares (US$ 53 milhões hoje, após a desvalorização). Nem Bonafini, nem as Mães da Praça de Maio tinham sido denunciadas por serem consideradas vítimas da fraude pelo juiz anterior encarregado do caso.