Istambul, Turquia - Comandantes militares turcos que serviam à Otan no Afeganistão foram detidos nesta terça-feira (26/7) em Dubai, o que estende ao exterior o expurgo em massa iniciado na Turquia após o golpe de Estado frustrado de 15 de julho.
Os dois generais estavam a caminho da Turquia, onde deveriam ser interrogados, assim como uma conhecida jornalista, detida de madrugada em um posto de controle em uma estrada a oeste do país e que deverá comparecer em Istambul para saber se sua detenção será confirmada. A caça às bruxas lançada pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan contra o "vírus" da rebelião, imputada ao pregador exilado nos Estados Unidos Fethullah Gülen, provoca uma grande inquietação tanto dentro quanto fora da Turquia.
Mais de 13 mil turcos foram colocados em prisão preventiva após o golpe frustrado contra o regime, que também deixou 270 mortos. O general Mehmet Cahit Bakir, comandante das forças turcas no Afeganistão - 500 homens - e o general de brigada Sener Topuc foram detidos no aeroporto de Dubai, anunciou um responsável da AFP sob condição de anonimato. Estas detenções são fruto da colaboração entre os serviços de inteligência turcos e os Emirados Árabes Unidos, informou a agência pró-governamental Anatolia.
"Estavam sendo transferidos à Turquia nesta manhã", acrescentou a Anatolia a respeito dos dois generais que ocupavam postos elevados, segundo o site da Otan, na missão "Apoio Decidido", dedicada a treinar e aconselhar as forças de segurança afegãs. A Anatolia também anunciou que o ex-governador de Istambul, Hussein Avni Mutlu, havia sido detido preventivamente no âmbito da investigação sobre o golpe de Estado.
Figura de primeira ordem do mundo dos meios de comunicação na Turquia, Nazli Ilicak foi detida nesta terça-feira. Ilicack forma parte dos 42 jornalistas com ordens de detenção emitidas na segunda-feira. De acordo com a Anatolia oito deles já foram presos, incluindo Ilicak e o ex-escritor do jornal gulenista Zaman Hanim Bü%u015Fra Erdal.
[SAIBAMAIS]Outras figuras conhecidas dos meios de comunicação também estão na mira, como o comentarista Bulent Mumay e o redator-chefe da Fox TV na Turquia Ercan Gun. "É triste e inaceitável", declarou à AFP Turgay Olcayto, presidente da Associação de jornalistas turcos.
"Pequena mudança institucional"
Paralelamente a esta ofensiva contra os meios de comunicação e o exército, Erdogan se reuniu na segunda-feira, em um raro gesto de unidade política, com autoridades da oposição. Após o encontro, o primeiro-ministro Binaly Yildirim anunciou que "os principais partidos estavam preparados para começar a trabalhar em uma nova Constituição".
Primeiro haverá uma "pequena mudança" constitucional. "O trabalho está em andamento", declarou Yildirim sem dar mais detalhes após o encontro entre o presidente e os líderes do Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata), Kemal Kiliçdaroglu, e do Partido da Ação Nacionalista (MHP, direita), Devlet Bahceli. A atual Constituição foi elaborada após o golpe de Estado de 1980 e o governo pede a sua revisão para instaurar o sistema presidencial, com o qual Erdogan sonha para reforçar seu poder.