Istambul, Turquia - Quatro dias depois da tentativa de golpe contra o regime turco de Recep Tayyip Erdogan, a vasta operação destinada a acabar com a suposta influência do opositor exilado Fethullah Gülen se estendeu a novos setores, em particular à educação em toda a Turquia.
O Conselho de Ensino Superior (Y;K) pediu a renúncia de mais de 1.500 reitores e decanos de universidades públicas e das que estão vinculadas a fundações privadas, segundo a agência pró-governamental Anatolia.
Segundo um balanço da AFP, ao menos 25.000 funcionários, sobretudo policiais e educadores, foram suspensos ou destituídos de suas funções em todo o país, no âmbito da caça de gülenistas.
Além disso, 9.322 militares, magistrados e policiais são alvos de um procedimento judicial, declarou o vice-primeiro-ministro Numan Kurtulmus, sem fornecer mais detalhes.
"Vamos bani-los de tal forma que (...) nenhum outro traidor, nenhuma organização terrorista clandestina ou grupo terrorista separatista terá a audácia de trair a Turquia", declarou o primeiro-ministro Binali Yildirim, em referência aos partidários do pregador Fethullah Gülen, acusado de estar por trás do golpe.
No entanto, mais cedo havia matizado e buscado visivelmente tranquilizar a comunidade internacional, ao negar que exista um "espírito de vingança" contra os golpistas, já que "uma coisa assim é absolutamente inaceitável no Estado de direito".
"Esta nação tira sua força do povo, não dos tanques", insistiu Yildirim no Parlamento.
As imagens que mostram agressões e humilhações contra os soldados golpistas que se renderam provocaram uma grande polêmica, sobretudo nas redes sociais.
"O nível de vigilância e de atenção será importante nos próximos dias", advertiu na segunda-feira o secretário de Estado americano, John Kerry.
Nesta terça-feira, o Alto Conselho de Rádio e Televisão turco (RTUK) anunciou que havia retirado as licenças das redes de televisão e rádio próximas a Gülen, ou seja, os meios vinculados ao FETO/PDY, acrônimos do movimento de Gülen.
- Nenhuma diferença com o EI -
Até o momento, ao menos 118 generais e almirantes foram detidos, suspeitos de estar envolvidos na tentativa de golpe, segundo a agência Anatolia, no que aparenta ser uma importante punição das forças armadas.
Vinte e seis generais e almirantes, entre eles o ex-chefe da força aérea, general Akin Ozturk, foram colocados sob prisão preventiva depois de serem acusados, em particular de "tentativa de subverter a ordem constitucional" e de "tentativa de assassinato" do presidente Erdogan. Ozturk nega qualquer envolvimento e acusa, sem nomeá-los, os partidários de Gülen.
O Estado-Maior afirmou que "a grande maioria das Forças Armadas não teve absolutamente nada a ver" com a tentativa de golpe, e que os "traidores" que participaram desta "vilania" serão "punidos da forma mais dura".
Kurtulmu%u015F também explicou que o golpe "não foi apoiado pela "cadeia de comando" do exército. "Foram pessoas (os gülenistas) que estão nas forças armadas que tentaram o golpe de Estado. Não há diferença entre elas e o (grupo extremista) Estado Islâmico (EI)".
E completou: "mas não atuaremos como este grupo. Faremos dentro dos limites da lei".
- Informações de Gülen para Washington -
A respeito de Gülen, Ancara indicou ter enviado "informações" a Washington por seus supostos vínculos com a tentativa de golpe, anunciou Yildirim nesta terça-feira.
Mas o clérigo, exilado nos Estados Unidos desde 1999, nega qualquer envolvimento no golpe.
"Sempre fui contra a intervenção de militares na política interna", afirmou na segunda-feira em uma entrevista à AFP nos Estados Unidos.
"Em um panorama como este, já não é possível falar de democracia, de Constituição, de uma forma de governo republicano", acusou o líder opositor, ex-aliado de Erdogan e atualmente seu grande inimigo.
Além disso, o religioso afirmou que o governo pode ter desempenhado um papel na tentativa de golpe.
"Informações da imprensa indicam que membros do partido no poder estavam cientes da tentativa oito, 10 ou 14 horas antes", disse.
- Vida de Erdogan ameaçada -
O presidente Erdogan explicou em uma entrevista à CNN, que sua vida correu risco durante a tentativa de golpe, embora as condições de sua repatriação da cidade de Marmaris (oeste), onde estava de férias, continuem sendo confusas.
"Se tivesse ficado 10 ou 15 minutos a mais no hotel, teriam me matado, sequestrado ou transferido", disse na segunda-feira à noite em uma entrevista à rede de televisão americana.
Erdogan também afirmou que aceitará o retorno da pena de morte se o Parlamento turco decidir a favor da medida. Ao mesmo tempo, declarou que a reunião do conselho de segurança nacional de quarta-feira "vai adotar uma decisão importante".
Durante o dia, a Agência de Assuntos Religiosos (DIYANET), a mais alta autoridade islâmica do país, anunciou que "o serviço religioso não será fornecido" às pessoas mortas nas fileiras rebeldes, contabilizadas em 104 até sábado.
O balanço oficial de mortos nas fileiras leais alcança 204 pessoas, consideradas "mártires".