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Venezuela: milhares cruzam fronteira com Colômbia em busca de alimentos

Depois do fechamento da fronteira, ordenado por Maduro por motivos de segurança, o presidente venezuelano autorizou a abertura de uma passagem de pedestres na manhã deste domingo (10/7)

Milhares de venezuelanos cruzaram a pé a fronteira com a Colômbia, neste domingo (10/7), aproveitando a abertura temporária da passagem de pedestres, fechada há 11 meses, para comprar, na cidade de Cúcuta, alimentos e remédios que escasseiam em seu país.

"Estamos felizes porque temos supermercado. Na Venezuela não tem nada! Não tem nem remédio para as crianças, elas estão morrendo. Só a cúpula tem comida. O presidente [Nicolás Maduro] diz que há comida, isso é mentira", disse à AFP Tulia Somaza, exaltada e entre aplausos dos seus compatriotas, que lotavam um supermercado em Cúcuta.

"Nós, os mortais, não temos nem sabão para lavar roupa", acrescentou Somaza, loira e de meia-idade, uma das milhares de pessoas que atravessaram os cerca de 700 metros que separam a cidade venezuelana de San Antonio del Táchira e a colombiana de Cúcuta para comprar provisões.

Depois do fechamento da fronteira, ordenado por Maduro por motivos de segurança, o presidente venezuelano autorizou a abertura de uma passagem de pedestres na manhã deste domingo entre as pontes Simón Bolívar (Venezuela) e Francisco de Paula Santander (Colômbia).

Longas filas se formaram diante das alfândegas desde as 5h locais (6h, horário de Brasília), à espera da abertura da passagem, que seria às 6h00. Muitas pessoas tinham dormido em veículos estacionados nas ruas próximas ao local, para poder cruzar a fronteira cedo e aproveitar o dia de compras.

As autoridades venezuelanas anunciaram que a passagem ficaria aberta durante 12 horas. Algumas versões extraoficiais afirmam que esse período será de apenas oito horas.

"O #CorredorHumanitárioFronteiriço já beneficiou cerca de 25.000 pessoas. Compram alimentos e remédios", publicou no Twitter, quase sete horas após a abertura, William Villamizar, governador do departamento colombiano de Norte de Santander, onde fica Cúcuta.

;Grave situação humanitária;

"Graças a Deus", era a exclamação mais repetida pelos venezuelanos ao chegarem a Cúcuta, ou nas filas dos supermercados, onde compravam produtos básicos como farinha, óleo, papel higiênico e shampoo.

"Agradecemos por essa acolhida [da Colômbia]. O povo da Venezuela neste momento passa por uma grave situação humanitária de escassez de remédios, de comida, de produtos básicos", disse à AFP José Gregorio Sánchez, habitante da localidade fronteiriça de Ureña.

"O governo venezuelano acabou com as indústrias que abasteciam o povo", afirmou Sánchez, acrescentando que, embora seja caro fazer compras na Colômbia, devido à desvalorização da moeda venezuelana, é "muito mais barato" do que comprar na Venezuela de revendedores, conhecidos como "bachaqueros", que oferecem os produtos regulados pelo governo a preços muito mais altos.

A passagem de pedestres foi aberta no domingo, depois que, na última terça-feira (5), cerca de 500 mulheres forçaram o cruzamento da fronteira, rompendo um cordão militar, para comprar produtos básicos em Cúcuta.

A escassez atinge em média 80% dos alimentos básicos e remédios na Venezuela, afetada pela queda dos preços do petróleo, mas se agravou na zona limítrofe devido ao fechamento da fronteira, segundo organizações privadas.

Debandada

Do lado venezuelano, houve momentos de desespero durante o cruzamento da fronteira. Por volta das 7h30, formou-se uma aglomeração em frente aos postos alfandegários, e a multidão atravessou, em disparada, os controles militares. As autoridades retomaram rapidamente o controle da situação.

Para evitar esse tipo de incidente, cerca de 300 policiais foram mobilizados em Cúcuta. O efetivo organizou os consumidores e protegeu, especialmente, os dois maiores centros de distribuição de alimentos da cidade.

Muitos venezuelanos chegavam aos supermercados do centro de Cúcuta de transporte público, enquanto outros eram levados por agentes policiais desde a fronteira, em veículos habilitados para a ocasião.

Maduro afirma que a escassez é fruto de uma "guerra econômica" de "empresários de direita", a qual acusa de especulação e de monopólio de produtos básicos para desestabilizar seu governo, criando mal-estar e desespero na população.

O presidente ordenou o fechamento da fronteira em agosto de 2015, após um ataque de supostos paramilitares colombianos contra uma patrulha militar venezuelana. O episódio deixou três feridos na cidade de San Antonio del Táchira, gerando tensões entre ambos os governos.

Na semana passada, os ministros da Defesa da Colômbia, Luis Carlos Villegas, e da Venezuela, Vladimir Padrino, retomaram as conversas sobre a segurança na área limítrofe, com a possibilidade de restabelecer a passagem na fronteira de 2.200 km.

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e sua chanceler, María Ángela Holguín, também visitaram Cúcuta esta semana, para monitorar a situação e defender a reabertura da fronteira.