Genebra, Suíça - A ONU expressou nesta terça-feira (5/7) sua preocupação com os cerca de 900 civis sequestrados no início de junho por uma milícia xiita na ofensiva do exército iraquiano para retomar a cidade de Fallujah do grupo Estado Islâmico (EI).
"No dia 1; de junho (...) cerca de 8 mil civis, incluindo 1.500 homens e meninos com mais de 14 anos, deixaram a aldeia de Saqlawiya, perto de Fallujah", segundo o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra;ad Al-Hussein, em um comunicado.
Não muito distante, unidades que se assemelhavam às do governo asseguraram-lhes pelo alto-falante que não tinham nada a temer, acrescenta o comunicado. Mas uma vez que se aproximaram, testemunhas viram a bandeira da milícia Kataeb Hezbollah.
Mulheres e crianças foram imediatamente transferidas para o campo de Amriyat al-Fallujah, gerido pelo governo iraquiano. Os homens e meninos foram transportados a vários lugares por vários dias em torno de Fallujah. Amontoados em locais sem água, comida ou ar fresco, foram algemados e mortos a tiros.
Alguns foram torturados, às vezes até a morte, caso pedissem ajuda, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas. Outros foram decapitados e dois queimados. Autoridades locais estimam que cinquenta pessoas foram executadas sumariamente ou torturadas até a morte, segundo a ONU.
Em 5 de junho, os sobreviventes foram separados em dois grupos: 605 pessoas puderam reencontrar suas famílias. Mas a ONU não tem notícias do segundo grupo, de cerca de 900 pessoas. O Alto Comissariado dispõe neste momento dos nomes de 643 deles.
Zeid Ra;ad A-Hussein denunciou "o pior - mas não o primeiro - incidente" perpetrado pelas milícias pró-governo no Iraque. "Estes crimes não são apenas horríveis. Eles são contra-produtivos. É uma forma de propaganda para o EI", ressalta o funcionário da ONU.
Fallujah foi a primeira cidade no Iraque cair nas mãos do EI em janeiro de 2014. Sua recuperação "total" foi proclamada em 26 de junho, depois de mais de uma um mês de operação. As milícias xiitas iraquianas participaram ativamente na libertação da cidade. A batalha de Fallujah levou a uma crise humanitária com o deslocamento de cerca de 90 mil pessoas.