Rome, Itália - Os bombeiros italianos estão trabalhando há quatro dias na remoção dos restos de centenas de migrantes que perderam a vida em abril do ano passado em uma das piores tragédias ocorridas no mar Mediterrâneo, quando uma embarcação afundou com cerca 700 pessoas a bordo.
O barco, com centenas de cadáveres em decomposição, foi recuperado na semana passada pela marinha italiana a 370 metros de profundidade e transportado para a Sicília, onde foi iniciada uma inédita e complexa operação para dar identidade genética a esses mortos.
"Estamos trabalhando sem parar, até recuperar o último corpo", informou à AFP Luca Cari, porta-voz dos bombeiros, que calcula que esta fase durará cerca de dez dias.
Os bombeiros começaram a limpar o convés, onde encontraram restos "provavelmente de dezenas de pessoas", contou Cari.
Duas entradas pelas paredes laterais da embarcação foram abertas para facilitar o acesso direto ao porão, onde viajavam amontoados a maioria dos migrantes, quase todos africanos.
A partir de terça-feira, bombeiros equipados com trajes de mergulho e cilindros de oxigênio se revezarão sem parar, em turnos de 30 minutos, para retirar os corpos do interior do barco.
Uma câmera introduzida no porão revelou que, debaixo da primeira camada de esqueletos, os corpos parecem estar em melhor estado de conservação. Entre estes há, em particular, muitos cadáveres de crianças.
"Se trata de uma intervenção especial tanto do ponto de vista técnico como do emocional. O ser humano não está preparado para esse horror", comentou Cari.
Uma equipe de legistas registra todas as etapas da operação, com o objetivo de identificar as vítimas, que depois serão enterradas na Sicília.
As autoridades italianas autorizaram e financiaram a complexa operação de resgate, com a ideia de criar uma rede europeia para identificar os migrantes que perdem a vida no Mediterrâneo.
Na noite de 18 de abril de 2015, o pesqueiro que tinha zarpado da Líbia afundou depois de colidir com um cargueiro português que tentava resgatá-lo. Entre as cerca de 700 pessoas que viajavam a bordo, apenas 28 sobreviveram à tragédia.
No dia do acidente, a marinha italiana recuperou mais de 169 corpos.
Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), desde 2014 mais de 10.000 migrantes morreram no Mediterrâneo enquanto tentavam chegar à Europa pelo mar.