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Quarteto tenta retomar processo de paz entre Israel e Palestina

"Israel terá que parar com a política de construção e expansão de assentamentos, designando terras para uso exclusivo israelense e negando um desenvolvimento palestino", assinala o relatório


Nações Unidas, Estados Unidos
- Israel deve parar a construção de assentamentos e palestinos devem interromper a incitação à violência, assinala o esperado relatório do Quarteto para o Oriente Médio publicado nesta sexta-feira, destinado a retomar o processo de paz.

O integrantes do Quarteto - Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Organização das Nações Unidas - afirmam que os assentamentos israelenses, a demolição de casas palestinas e o confisco de suas terras estão "desgastando constantemente a viabilidade de uma solução de dois Estados".

"Israel terá que parar com a política de construção e expansão de assentamentos, designando terras para uso exclusivo israelense e negando um desenvolvimento palestino", assinala o relatório.

"Isto alimenta dúvidas legítimas sobre as intenções de Israel a longo prazo, reafirmadas por declarações de alguns ministros israelenses de que nunca haverá um Estado palestino", acrescenta o texto.



O Quarteto, por sua vez, lamenta que os dirigentes palestinos "não condenem clara e sistematicamente os ataques terroristas específicos", enquanto ruas e praças são batizadas com nomes dos que realizaram atos de violência.

"A Autoridade Palestina deveria atuar decisivamente e tomar todas as medidas necessárias a seu alance para interromper a incitação à violência e fortalecer os atuais esforços para combater o terrorismo, incluindo a firme condenação de todos os atos de terrorismo", afirma o documento.

Solução de dois Estados

"O Quarteto reitera que uma solução negociada de dois Estados é a única maneira de alcançar uma paz durável que satisfaça as necessidades de Israel em termos de segurança e as aspirações dos palestinos de um Estado independente e soberano", agrega o relatório.

O documento, cuja preparação demandou vários meses, tem por objetivo a retomada do processo de paz, interrompida desde abril de 2014.

Desde o início desse processo em Oslo, em 1993, a população dos assentamentos israelenses mais que duplicou, chegando a triplicar na chamada Área C, a mais valorizada da Cisjordânia, destaca o relatório.

Atualmente vivem ao menos 570.000 colônias israelenses na Cisjordânia e na parte oriental de Jerusalém, que os palestinos aspiram converter na capital de seu novo Estado. A ONU considera esses assentamentos como ilegais.

Ao menos 140 palestinos morreram desde outubro, de acordo com o relatório, cerca de 60 deles por consequência dos disparos das forças de segurança israelenses durante manifestações, confrontos ou operações militares.

Entre as 10 recomendações relatadas no documento, o Quarteto pede com urgência a Israel que retire o bloqueio de Gaza e chama a Autoridade Palestina para restabelecer o controle na Faixa de Gaza, atualmente governada pelo movimento radical Hamas.

O Conselho de Segurança da ONU deve decidir se irá apoiar este relatório, publicado em um momento que a França impulsiona uma conferência internacional de paz que acontecerá até o fim do ano.

O embaixador francês para a ONU, François Delattre, declarou que o relatório e a iniciativa de paz de Paris são "complementares" e "se reforçam mutuamente".

Um diplomata do departamento de Estado disse à AFP, em Washington, que "ainda que os líderes de ambas as partes declarem apoiar a solução de dois Estados, se continuarem da maneira que está, essa perspectiva será cada vez mais remota".

"Realmente nos preocupa que ao não acontecer mudanças significativas, existe o risco de que se perpetue a realidade de um Estado e isso não beneficiará nenhuma das partes", advertiu o diplomata americano, que pediu anonimato.