O dirigente norte-coreano Kim Jong-un afirmou que seu país está preparado para atacar as bases americanas do Pacífico depois dos testes de um novo míssil, ao mesmo tempo que o Conselho de Segurança da ONU define uma resposta a portas fechadas. Kim, que supervisionou pessoalmente na quarta-feira (23/6) os testes de dois mísseis, apresentou os ensaios como um "grande acontecimento", que reforça as capacidades de ataque nuclear preventivo da Coreia do Norte, segundo a agência oficial KCNA.
Pyongyang testou na quarta-feira dois mísseis Mussudan, com alcance médio de entre 2.500 e 4 mil quilômetros, que, em tese, ameaçam Coreia do Sul, Japão e as bases americanas americanas na ilha de Guam. "Temos a capacidade segura de atacar de maneira efetiva os norte-americanos no teatro de operações do Pacífico", disse Kim, citado pela agência oficial. A versão coreana da informação indica ainda que Kim chamou os americanos de "bastardos".
Após quatro testes fracassados em 2016, os Musudan lançados na quarta-feira parecem ter alcançado distâncias muito importantes, chegando inclusive a uma altitude superior a 1.400 km.
Reunião do Conselho de Segurança
Os testes foram condenados pela comunidade internacional e, a pedido de Washington e Tóquio, os embaixadores dos 15 países do Conselho de Segurança da ONU realizaram consultas as portas fechadas. O embaixador adjunto da França na ONU, Alexi Lamek, cujo país preside atualmente o Conselho, constatou na quarta-feiras "uma grande convergência de opiniões".
Os Estados-membros avaliam, por unanimidade, que os disparos "violam todas as resoluções do Conselho de Segurança", e uma declaração formal "está sendo discutida (...) e deverá retomar uma mensagem firme em relação ao regime" de Pyongyang, acrescentou Lamek. Várias resoluções da ONU proíbem a Coreia do Norte de utilizar tecnologia balística.
Especialistas destacaram que os últimos testes constituíam para Pyongyang um importante passo em seus esforços para desenvolver um míssil intercontinental (ICBM) capaz de alcançar o território do grande inimigo norte-americano, do outro lado do Pacífico. A Coreia do Norte nunca testou um ICBM, mas apresentou há pouco tempo um exemplar deste tipo de míssil, o KN-08, durante desfiles em Pyongyang.
Sanções mais fortes
O ambiente piorou consideravelmente na península desde o quarto teste nuclear da Coreia do Norte em 6 de janeiro, seguido em 7 de fevereiro pelo lançamento de um foguete, considerado um teste disfarçado de míssil de longo alcance. O Conselho de Segurança adotou na época as sanções mais fortes até então contra Pyongyang. Novas sanções implicariam a aprovação de Pequim, tradicionalmente o aliado mais próximo a Pyongyang.
Na quarta-feira, a China advertiu contra "qualquer ação que possa resultar em uma escalada das tensão" e pediu a retomada do diálogo sobre o programa nuclear norte-coreano. Mas a possibilidade foi descartada por Choe Son-Hui, diretora geral adjunta do departamento de assuntos norte-americanos do ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte, durante uma visita a Pequim. "No momento não temos a intenção de participar em negociações", disse.
Ao mesmo tempo, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Ashton Carter, considera que os testes norte-coreanos demonstram que Washington precisa reforçar os sistemas de defesa antimísseis. "Temos que seguir antecipando a ameaça", declarou. Washington e Seul discutem atualmente a possível instalação na Coreia do Sul do escudo antimísseis americano THADD (Theater High Altitude Area Defense System), o que não agrada em nada a China.