PERMANÊNCIA NA UNIÃO EUROPEIA
"Reino Unido perderia acesso a mercados"
Aris Georgopoulos
No entanto, este referendo não é apenas sobre economia e comércio. É sobre democracia e soberania. É verdade que, como parte da UE, o Reino Unido, assim como outros países-membros, compartilha parte de sua soberania com outros membros, a fim de maximizar e amplificar, por meio da ação coletiva, o seu poder no mundo. Não é verdade que a tomada de decisão da UE seja antidemocrática. As regras da UE são propostas pelo serviço jurídico europeu (a Comissão Europeia), mas são alteradas e votadas pelo Parlamento da UE diretamente e pelos representantes dos governos nacionais eleitos democraticamente, dentro do Conselho. Em qualquer caso, a discussão sobre a democracia e a responsabilização teria sido mais honesta se, ao invés de castigar a UE, mostrasse o mesmo nível de sensibilidade democrática para os padrões democráticos no Reino Unido. Por exemplo, o sistema eleitoral, pouco representativo, a não eleição da Câmara Alta da Casa dos Lordes. a dependência das Agências Executivas). Eu receio que, sob o disfarce de "sensibilidade democrática, se esconde insidiosamente algo mais sinistro, o velho inimigo do continente europeu: o nacionalismo.
Esse referendo, e o contexto no qual ocorre, me lembra O senhor dos anéis, de J R Tolkien. Na minha concepção, o anel a ser destruído é a reemergência do nacionalismo. Por quase 60 anos, uma associação de nações conseguiu, com sucesso, subjugar esse velho inimigo. Como no livro de Tolkien, essa associação está longe de ser perfeita. No entanto, desmantelá-la ou se afastar dela não pode ser a resposta. É preciso coragem, perseverança e compromisso para entregar a sua missão. Eu realmente espero que o Reino Unido não se distanciará dessa associação.
Aris Georgopoulos é professor de direito público e europeu da Faculdade de Direito da Universidade de Nottingham (Reino Unido)
SAÍDA DA UNIÃO EUROPEIA
Uma questão de soberania
Mark Stuart
A razão pela qual metade do povo britânico não escutou essa evidência clara está no fato de que eles têm uma conexão emocional muito pequena com a União Europeia. Para eles, esta é uma instituição remota e antidemocrática. Questões sobre nacionalidade e identidade nacional importam mais: quem governa o Reino Unido, e podemos "chutar os patifes" para fora, em eleições gerais? O sistema eleitoral britânico lhes permite fazerem isso. O sistema da União Europeia, não.
Veja o que ocorreu com os gregos, no ano passado. Eles elegera um governo que desejava pôr fim à austeridade. Ainda assim a UE interveio e disse que eles não poderiam fazer isso. Sim, a Grécia, o país que inventou a palavra "democracia" ("demos"), foi incapaz de se governar. A dura realidade é que, em um mundo moderno e globalizado, as pessoas têm muito pouco poder para moldar suas próprias decisões, ainda que queiram retomar algum controle sobre quem as governa. Por isso, voto hoje pela saída da União Europeia.
A maior preocupação no Reino Unido é com a imigração descontrolada. Desde a década de 1990, mais de 3 milhões de imigrantes vieram da UE para trabalhar no Reino Unido, fundamentalmente alterando o tecido social de nosso país. Enquanto pessoas mais jovens estão confortáveis com tais mudanças, os cidadãos mais velhos se mostram preocupados com o fato de o passo da mudança vir rápido demais. Eles sentem que a imigração descontrolada está levando a uma perda da identidade nacional britânica e que as elites políticas não têm escutado suas preocupações. Votar pela saída é visto por muitos como um protesto contra essas mudanças.
Mas, apesar de a imigração ser o bastante para assegurar um voto pela saída ("Brexit") no referendo, provavelmente não é suficiente para garantir a vitória daqueles que desejam a saída do Reino Unido do bloco. A classe média indecisa, preocupada com suas economias e investimentos, é quem provavelmente vai balançar o resultado no último minuto em favor da permanência no bloco. Se esse resultado ocorrer, isso vai me entristecer, pois quero que minha filha pequena viva em um país livre e que seja capaz de se governar.
Mark Stuart é professor da Faculdade de Ciências Sociais na Universidade de Nottingham (Reino Unido)