Mundo

Lenda do boxe, Muhammad Ali morre aos 74 anos, nos Estados Unidos

Três vezes campeão mundial dos pesos pesados, o boxeador lutava há 32 anos contra o Mal de Parkinson

Agência France-Presse
postado em 04/06/2016 08:04
Três vezes campeão mundial dos pesos pesados, o boxeador lutava há 32 anos contra o Mal de Parkinson

Phoenix, Estados Unidos -
A lenda americana do boxe Muhammad Ali, um ícone do século XX cuja vida e carreira de mais de três décadas transcenderam o mundo do esporte, faleceu na noite de sexta-feira, aos 74 anos, em um hospital de Phoenix (Arizona). "Após 32 anos de luta contra o Mal de Parkinson, Muhammad Ali morreu aos 74 anos", disse seu porta-voz, Bob Gunnell. "O três vezes campeão mundial dos pesos pesados morreu durante a noite", completou em um comunicado.

Gunnell explicou que o funeral será realizado na cidade natal do boxeador, Louisville, Kentucky, em data ainda não definida. "A família de Ali quer agradecer a todos que o acompanhavam com seus pensamentos, orações e apoio, mas pede respeito a sua privacidade", conclui o comunicado.

Aos poucos, as ruas ao redor do Scottsdale Healthcare Osborn Medical Center começaram a receber fãs, após o anúncio da morte do grande campeão dos pesos pesados. Como em uma noite de combate, as pessoas se aproximaram do hospital para aplaudir e recordar o legado de Ali. O mito do boxe - cujo Mal de Parkinson alguns atribuíam aos golpes recebidos durante a carreira - havia sido internado no fim de 2014 e no começo de 2015, por pneumonia e infecção urinária, e suas aparições públicas eram cada vez mais raras.

[FOTO715959]

O filipino Manny Pacquiao publicou uma foto de Muhammad Ali com a frase: "Por favor, tenham Muhammad Ali em seus pensamentos e orações. Com Deus, tudo é possível". Oscar de la Hoya, campeão olímpico e várias vezes campeão mundial entre os profissionais, o descreveu como uma "lenda e um dos atletas mais famosos do mundo, o lutador que marcou o início da era de ouro do boxe e colocou o esporte no mapa".

"Além de seu incrível talento, também torno o boxe interessante. Alia era corajoso no ringue, e enfrentou os oponentes mais difíceis. Ali exemplificou a coragem porque nunca escolheu o caminho fácil, algo pelo que deve ser admirado dentro e fora dos ringues", afirmou a empresa Golden Boy Promotions, que organiza lutas de boxe, em um comunicado.
Cassius Clay

Nascido com o nome de Cassius Marcellus Clay Jr., assumiu o nome Muhammad Ali após a conversão ao islã. Seu nome original começou a ficar famoso quando conquistou o ouro olímpico em Roma-1960. Ele iniciou a carreira profissional no mesmo ano, tornando-se campeão mundial da AMB em 1964, ao derrotar Sonny Liston por nocaute no 7; round.

As dificuldades começaram cedo, já que cresceu no sul segregado dos Estados Unidos e sofreu com os preconceitos raciais e a discriminação. Talvez por este motivo tenha abraçado o boxe e aos 12 anos descobriu seu talento para o esporte, após uma pegadinha do destino, quando sua moto foi roubada. Ali afirmou ao policial que desejava bater no ladrão e o agente, Joe Martin, também era treinador de boxe em um ginásio local. Assim teve início a lenda.

Com apenas 22 anos e ainda como Cassius Clay, conquistou seu primeiro título dos pesados ao vencer Sonny Liston no dia 25 de fevereiro de 1964, em Miami, Flórida. Clay usou sua velocidade e jogo de pernas - que marcaram sua carreira - para derrotar o lento Liston, que abandonou a luta no sexto round. Após o nocaute técnico, Clay proclamou ao mundo: "sou o maior"! Em 25 de maio de 1965, já como Muhammed Ali, voltou a enfrentar Liston em Lewiston, no Maine, para derrubar o desafiante logo no primeiro round.

O mestre indiscutível dos pesos pesados, considerado "o maior de todos", provocou uma grande polêmica alguns anos depois nos Estados Unidos, em 1967, quando se recusou a cumprir o serviço militar e combater na guerra do Vietnã, alegando convicções religiosas. Ele foi detido e destituído do título mundial, além de ter sido proibido de praticar boxe profissionalmente por três anos e meio. No retorno aos ringues, Ali enfrentou Joe Frazier no Madison Square Garden.

No dia 8 de março de 1971, com 50 países transmitindo o combate em Nova York, Ali começou dominando os três primeiros rounds, mas Frazier assumiu o controle a partir do quarto assalto - com uma série de ganchos - e encurralou o adversário no final. Frazier manteve o título por decisão unânime dos juízes, impondo a Ali sua primeira derrota profissional.

Ali só voltou a ser campeão mundial em outubro de 1974, ao conquistar os títulos da AMB e CMB, depois de vencer o grande rival George Foreman, em Kinshasa, no Zaire, hoje chamado República do Congo, por nocaute no oitavo round em uma luta que muitos consideram a maior de todos os tempos, conhecida como "Rumble in the Jungle". Ali dançou no ringue para evitar a conhecida pegada do gigante Foreman, que disparava golpes e se cansava no sufocante calor africano diante das provocações, outra característica do lendário pugilista.

A partir do quarto round, Foreman já mostrava cansaço e começou a ser minado por uma sequência de golpes, que culminaram com o nocaute no oitavo assalto, após um gancho de esquerda que sacudiu a cabeça de Foreman e uma direita que o jogou na lona. Outra luta antológica ocorreu em Manila, nas Filipinas, a terceira contra Frazier, que treinou intensamente para o combate realizado em outubro de 1975.

Ali começou com uma série de golpes combinados, mas Frazier aproveitou o cansaço do adversário para encaixar seus poderosos ganchos de esquerda, para dominar até o décimo assalto, quando a lenda passou a reagir explorando sua velocidade para fechar os olhos de Frazier com golpes precisos no rosto.

O treinador de Frazier, Eddie Futch, jogou a toalha no 15; round, apesar das suas objeções, e Ali venceu outro combate épico. O título foi perdido em fevereiro de 1978, com derrota para Leon Spins, e reconquistado na revanche, em setembro do mesmo ano. A carreira profissional de Ali terminou com uma derrota por pontos para Trevor Berbick, no dia 11 de dezembro de 1981, no Queen Elizabeth Sports Centre de Nassau. Mas nada abalou a lenda.



Apenas um homem?
"Alia era um homem do povo. Um lutador pelo povo. Adoro Muhammad Ali, foi um amigo de toda a vida. Nunca vai morrer. Seu espírito seguirá para sempre", afirmou Don King, o promotor de suas maiores lutas, como as já citadas ;Thrilla in Manila;, o terceiro combate com Joe Frazier, ou ;Rumble in the Jungle; contra George Foreman.

Em 1984 Ali anunciou ao mundo que tinha o Mal de Parkinson. "(Deus) me deu a doença de Parkinson para mostrar que eu era um homem como os demais, que tinha fragilidades como todo mundo. É tudo o que sou: um homem", disse em uma entrevista em 1987. Em 1996, Ali emocionou o mundo ao acender a pira olímpica dos Jogos de Atlanta, já tremendo por causa do Mal de Parkinson.

O famoso promotor e presidente da empresa Top Rank, Bob Arum, que começou a carreira no boxe com a organização em 1972 da luta entre Ali e George Chuvalo, o descreveu como algo bem maior. "Se foi um dos grandes. Muhammad Ali transformou este país e impactou o mundo com seu espírito", disse Arum, de 84 anos. "Seu legado será parte de nossa história por todos os tempos", completou.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação