Paris, França - A comunidade internacional reafirmou nesta sexta-feira seu apoio à solução de dois Estados, israelense e palestino, e prometeu tentar convencer as duas partes a retomar as negociações de paz, apesar da hostilidade de Israel a qualquer ingerência que não seja americana sobre este assunto.
"A perspectiva de dois Estados está em grave perigo e a situação se aproxima de um ponto de não retorno", alertou o chefe da diplomacia francesa, Jean-Marc Ayrault, após uma reunião na presença de ministros e representantes de quase 30 países e organizações internacionais em Paris.
"É necessário atuar urgentemente para preservar a solução dos dois Estados, reanimá-la antes que seja muito tarde", disse, ao sair de uma conferência, reiterando a vontade francesa de organizar uma reunião entre israelenses e palestinos até o fim do ano.
A Organização de Libertação da Palestina (OLP) reagiu positivamente a esta reunião, dizendo ter sido "uma etapa muito importante".
Para Saeb Erakat, número dois da organização, "a mensagem que envia é clara: se permitirmos que Israel siga com suas políticas de colonização e de apartheid na Palestina ocupada, no futuro haverá mais extremismo e sangue derramado, e não coexistência e paz".
No mesmo momento, o porta-voz do ministério israelense de Relações Exteriores, Emmanuel Nahshon, indicou que a "reunião de Paris entrará para a história como uma que só teve como consequência endurecer as posições palestinas e afastar as perspectivas de paz".
"Em vez de implorar (ao presidente palestino) Mahmud Abbas que aceite os chamados do primeiro-ministro (israelense Benjamin Netanyahu) para iniciar imediatamente negociações diretas sem pré-condições, a comunidade internacional cede às exigências de Abbas e o autoriza a seguir fugindo das negociações diretas", disse.
No comunicado final da conferência, os participantes reiteraram que "o status quo não é sustentável" e se disseram "alarmados" com a situação no terreno, citando "a violência e as atividades de colonização".
Eles citaram textos internacionais de referência, em particular as resoluções da ONU como bases para as negociações.
A este respeito, a iniciativa árabe de 2002, que prevê a normalização das relações com Israel e uma retirada israelense dos territórios palestinos, continua a ser a melhor base para alcançar a paz, declarou no final do encontro o chefe da diplomacia saudita, Adel Al-Jubeir.
Difícil trabalho de persuasão
Os anúncios concretos, no entanto, foram muito limitados. Ayrault propôs "lançar trabalhos" sobre possíveis incentivos fiscais em matéria econômica, em termos de cooperação e segurança regional, para convencer as partes a voltar à mesa de negociações.
No ambiente econômico, particularmente a Europa, "primeiro parceiro comercial de Israel e maior doador para a Autoridade Palestina", tem um papel crucial a desempenhar, sublinhou a chefe da diplomacia europeia Federica Mogherini.
Os grupos de trabalho devem se reunir "antes do final do mês", prometeu Ayrault, acrescentando que iria se encontrar "muito em breve" com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, para propor "um trabalho em estreita colaboração com eles".
No entanto, o trabalho de persuasão pode ser difícil. Mesmo antes de sua realização, a reunião em Paris já era rejeitada por Israel. "Será um fracasso", previu o diretor do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Dore Gold.
"Não se trata de substituir as partes interessadas", tentou tranquilizar o presidente francês, François Hollande, que abriu a conferência nesta sexta-feira.
Mas a comunidade internacional deve agir porque "no atual contexto regional no Oriente Médio, o vácuo será inevitavelmente preenchido por extremistas e terroristas que irão se aproveitar da situação".
Outra questão diz respeito à vontade dos Estados Unidos, mediadores históricos e jogadores-chave neste assunto, de se envolver na iniciativa lançada pela França
O secretário de Estado americano John Kerry, mediador das negociações entre israelenses e palestinos em 2013 e 2014, esteve presente na reunião de Paris.
Questionado antes do início da reunião sobre o apoio dos Estados Unidos à ideia de convocar uma conferência internacional de paz no final do ano, ele disse: "Vamos ver, temos de ver onde isto vai, vai acontecer".