O diálogo de paz sobre o Iêmen começa nesta quinta-feira (21/4) no Kuwait - confirmou a ONU, depois que os xiitas huthis concordaram em se unir à mesa de discussões.
A notícia foi confirmada pelo porta-voz das Nações Unidas Stéphane Dujarric.
"As negociações de paz no Iêmen começarão quinta-feira no Kuwait, sob a égide da ONU", anunciou Dujarric em Nova York.
"As delegações se concentrarão na aplicação da resolução 2216", completou.
Mais cedo, os rebeldes huthis e seus aliados no Iêmen anunciaram sua participação nas negociações de paz com o governo, com mediação da ONU.
"Aceitamos participar das negociações, depois de recebermos garantias do mediador da ONU Ismail Uld Sheikh Ahmed sobre o respeito à trégua", anunciou o representante dos rebeldes huthis, Saleh al-Samad, em uma declaração ao canal Al-Masirah.
"Teremos o direito de suspender nossa participação se as garantias fornecidas não forem cumpridas", declarou Mahdi al-Mashat, um outro chefe rebelde.
A delegação dos rebeldes e de seus aliados, partidários do ex-presidente Ali Abdallah Saleh, deixou a capital iemenita Sanaa para Omã antes de seguir para o Kuwait, segundo as autoridades aeroportuárias. Já a delegação que representa o presidente Abd Rabbo Mansour Hadi, apoiado pela Arábia Saudita, está no local desde segunda-feira.
As conversas deveriam ter começado ontem, mas foram adiadas porque os rebeldes e seus aliados não enviaram uma delegação ao Kuwait em protesto pelas "violações sauditas" do cessar-fogo, em vigor desde 10 de abril.
O anúncio foi confirmado por um representante do Congresso Popular Geral (CPG), o partido do ex-presidente Ali Abdallah Saleh, aliado dos huthis.
Ao deixar Mascate, Yasser Alawadi, secretário-geral adjunto do CPG, o partido de Saleh, alertou que "não haverá debates sobre questões políticas enquanto o cessar-fogo não tiver sido respeitado pelos agressores".
Outra liderança do CPG, Yahia Duwaid, disse estar "otimista", indicando que a ONU ajudou a "superar vários obstáculos que retardaram nossa chegada ao Kuwait".
Na véspera, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, convocou as partes em conflito no Iêmen a iniciar as negociações de paz.
Ban pediu que o governo de Sanaa - apoiado pela Arábia Saudita - e os rebeldes xiitas huthis, junto com seus aliados, comprometam-se com o enviado da organização "para que as negociações possam começar sem demora". Ele também pediu aos participantes que "dialoguem de boa-fé".
Presente no Kuwait, o mediador da ONU multiplicou os contatos com os protagonistas e representantes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança. Segundo um diplomata ocidental, o órgão divulgou uma mensagem aos rebeldes, nesta terça, pedindo-lhes que enviassem seus delegados para o Kuwait.
No terreno, os combates continuavam em algumas linhas de frente. Nas últimas 24 horas, morreram 16 rebeldes e três soldados, no nordeste de Sanaa, segundo um oficial legalista.
O cessar-fogo implementado foi violado em várias ocasiões no Iêmen desde sua entrada em vigor. Nenhuma das partes declarou o conflito encerrado.
Desde a intervenção em 2015 da coalizão liderada pela Arábia Saudita para apoiar o governo, o conflito no Iêmen já deixou 6.300 mortos, metade civis, e 30 mil feridos.
O conflito também produziu 2,4 milhões de refugiados, e 80% da população necessita de ajuda humanitária, segundo a ONU.
O movimento rebelde pró-Irã dos huthis controla Sanaa desde setembro de 2014 e tem conseguido resistir aos avanços das forças xiitas pró-governo, apoiadas pela coalizão árabe, no norte e no centro do Iêmen.
País pobre da península arábica, o Iêmen registra um cenário de caos desde a chegada dos huthis vinculados com o Irã, país xiita.