Simpatizantes de Cristina Kirchner devem tomar as ruas de Buenos Aires, hoje, em uma demonstração de apoio à ex-presidente argentina. A mobilização ocorre em paralelo à convocação para que a antecessora de Maurício Macri deponha na Justiça sobre o suposto envolvimento em um caso de fraude na venda de dólares pelo Banco Central. Enquanto os kirchneristas acusam o atual presidente de promover uma perseguição jurídica à ex-mandatária, os governistas se preocupam com a comoção em torno no caso e o possível fortalecimento da oposição.
Vista ocasionalmente na sacada de seu apartamento na capital desde que chegou do sul do país, na segunda-feira, Cristina deve comparecer ao complexo judiciário Comodoro PY, na capital argentina, às 10h. Em entrevista ao jornal Página 12, a deputada Juliana Di Tullio, da coligação kirchnerista Frente Para a Vitória (FPV), relatou que mobilizações ocorrerão em ;todo o país;. A parlamentar e outros aliados da ex-presidente denunciam a convocação a depor como uma ;manobra política; de parte de membros do Judiciário e do presidente Macri. Daniel Scioli, derrotado por Macri na disputa presidencial, considerou ;injusta; a acusação e previu uma mobilização ;em massa; da militância krichnerista.
Axel Kicillof, que chefiava o Ministério da Economia no governo de Cristina, foi ouvido ontem pelo tribunal. Segundo o jornal Clarín, ele rebateu as acusações de corrupção e afirmou que tudo se tratava de uma ;denúncia política;. O ex-ministro negou-se a responder às perguntas do juiz oralmente e apresentou uma nota por escrito, na qual acusou o Judiciário de tentar condenar uma política econômica, em lugar de examinar uma ;matéria penal;. ;Não há nenhum delito de corrupção ou suborno de qualquer funcionário ou do Banco Central;, escreveu.
Offshore
Kicillof alfinetou o presidente Macri, ao afirmar que as denúncias contra o governo Kirchner ;não mencionam nenhuma sociedade offshore nas Bahamas ou no Panamá em nome de nenhum dos supostamente envolvidos;, em clara referência à citação de empresas ligadas ao mandatário no caso Panama Papers (leia mais abaixo).
A participação do ex-ministro na audiência durou cerca de 45 minutos e foi acompanhada por militantes e expoentes do kirchnerismo, que o aguardavam do lado de fora do tribunal. Manifestantes e um batalhão de repórteres também se reuniram em frente ao prédio onde fica o apartamento da ex-presidente.
Apoiadores de Cristina interferiram, inclusive, em um dos compromissos da agenda de Macri na visita a Quilmes, na Província de Buenos Aires. Em conversa com jornalistas, o presidente minimizou a capacidade de liderança política da antecessora. ;Ela esteve muito ausente nesses meses. Vejamos se agora toma uma posição mais ativa. Nós estamos planejando a agenda do futuro;, disparou. Questionado sobre as manifestações, o presidente argumentou que a comoção se justifica pelo fato de ela ser ex-presidente. ;Isso pesa um pouco. Parece bem que a recebam e que acompanhem esse momento em sua vida política.;
Desde que deixou a Casa Rosada, em 9 de dezembro, Cristina passou a viver na Patagônia, onde construiu a carreira com o marido, Néstor Kirchner, também ex-presidente, morto em 2010. Na véspera de comparecer ao depoimento, ela se reuniu com Raúl Eugenio Zaffaroni, ex-juiz da Suprema Corte, segundo informações da agência de notícias Telam.
Ameaças
Em meio às expectativas de mobilização dos kirchneristas, ameaças foram feitas ao promotor Guillermo Marijuan e ao contador Leonardo Fariña, preso por evasão de disivas. Fariña é a fonte de uma série de denúncias contra o governo de Cristina e Lázaro Báez, suposto testa de ferro da família Kirchner. Segundo o Clarín, autoridades responderam às ameaças com o reforço da segurança na cela de Fariña e a inclusão de seus familiares em um programa de proteção a testemunhas.
Efeito dominó
Quatro meses depois de deixar a Casa Rosada, Cristina Kirchner e auxiliares próximos são alvo de uma série de investigações
Lavagem de dinheiro
; A ex-presidente é suspeita de envolvimento no envio irregular de recursos ao exterior. Uma testemunha teria mencionado a ex-presidente e o falecido marido, Néstor Kirchner, como parte de operações investigadas sob sigilo. O empresário Lazaro Báez, ligado ao casal, é mencionado no caso.
Hotesur
; A Justiça investiga operações de lavagem de dinheiro envolvendo Cristina e o filho, o deputado Máximo Kirchner, relativas a hotéis de luxo que a família possui na Patagônia, sul do país.
Los Sauces
; Uma das sociedades da família Kirchner utilizadas para operações imobiliárias é investigada em um caso de transações com a companhia Austral Construciones, de Lázaro Báez. As suspeitas são de que a ex-presidente tenha falsificado documentos públicos.
Báez
; Suspeito de ser testa de ferro dos Kirchner, o empresário é investigado
por manobras financeiras ilegais. Ele enriqueceu durante os governos
de Néstor e Cristina, e sua prisão já é admitida pelo kirchnerismo. Opositores tentam acreditar que as conexões de Báez podem expor irregularidades dos ex-presidentes.
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