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Ameaças contra trégua na Síria antes da retomada das negociações de paz

Washington, Paris e Teerã expressaram preocupação com o recente aumento da violência e uma possível violação do cessar-fogo estabelecido pelos americanos e os russos, e que vinha sendo mantido desde 27 de fevereiro



Beirute, Líbano - A trégua na Síria pode terminar nesta terça-feira, na véspera da retomada das negociações de paz em Genebra, uma vez que o regime, os jihadistas e os rebeldes se preparam para uma batalha decisiva na província de Aleppo, no norte do país.

Washington, Paris e Teerã expressaram preocupação com o recente aumento da violência e uma possível violação do cessar-fogo estabelecido pelos americanos e os russos, e que vinha sendo mantido desde 27 de fevereiro.

Descritas como "cruciais" pelo enviado especial para a Síria Staffan De Mistura, as novas discussões deveriam começar na quarta-feira, três semanas após a primeira rodada que não permitiu alcançar grandes progressos.


Esta retomada vai coincidir com as eleições parlamentares que o regime de Bashar al-Assad organiza quarta-feira nas áreas que controla. Mais de 11.000 candidatos disputam esta que é a segunda eleição desde o início da guerra, em 2011, e que foi denunciada como "ilegítima" pela oposição e os países ocidentais.

No terreno, a Rússia, que apoia o presidente Assad, perdeu dois militares na queda de um helicóptero no centro da Síria, segundo anunciou o ministério da Defesa.

Na província de Aleppo, os combates são intensos entre as tropas do regime e seus aliados de um lado e os jihadistas da Al-Qaeda e seus aliados rebeldes em várias frentes ao longo da estrada que liga Aleppo a Damasco.

De acordo com um general russo, a Frente Al-Nosra (ramo sírio da Al-Qaeda) e seus aliados querem cortar esta via de abastecimento estratégica.

Aumento dos combates
Assim como o grupo extremista Estado Islâmico (EI), a Frente Al-Nosra está excluída do acordo de cessar-fogo. Mas luta ao lado de grupos rebeldes que estão envolvidos na trégua.

O diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (SOHR), Rami Abdel Rahman, relatou "um aumento significativo das operações militares, especialmente na província de Aleppo, em relação a março".

Província está dividida entre o regime, rebeldes, jihadistas e curdos. "Aleppo detém a chave para a paz ou a guerra na Síria", declarou à AFP.

Os confrontos se intensificaram no último fim de semana perto da cidade de Khan Tumane, localizada ao sul da cidade de Aleppo e que a Frente Al-Nosra tenta capturar.

Também ocorrem em al-Eis, mais ao sul, que o exército tenta recuperar da Al-Nosra.

Ao norte de Aleppo, grupos rebeldes atacaram uma posição do exército na região de Handarat.

Os distritos rebeldes da metrópole foram bombardeados por aviões do regime na segunda-feira, enquanto que, desde o fim das hostilidades, o número de bombardeios do regime havia caído significativamente.

O primeiro-ministro sírio, Wael al-Halqi, advertiu no domingo que o regime e seus "parceiros russos" estavam prontos para lançar uma ofensiva para retomar Aleppo.

Washington ;preocupado;

Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado Mark Toner expressou a "preocupação" dos Estados Unidos com a ofensiva que se prepara pelo controle de Aleppo.

"Todo mundo precisa se concentrar na Frente Al-Nosra e Daesh (acrônimo em árabe para o EI)", afirmou.

Esta preocupação é compartilhada por Teerã, principal aliado regional do regime sírio, que denunciou violações do cessar-fogo durante uma visita nesta terça-feira do enviado de Mistura.

"Explicamos ao Sr. de Mistura nossas preocupações após o aumento nos últimos dias das ações militares de grupos armados irresponsáveis %u200B%u200Be o aumento de casos de violação do cessar-fogo", declarou o vice-chanceler iraniano, Hossein Amir Abdollahian.

A televisão estatal iraniana informou ainda a morte de quatro soldados iranianos em combates com a Frente Al-Nosra ao sul de Aleppo.

Em visite a Damasco na segunda-feira, de Mistura enfatizou a importância de se manter a trégua, mesmo que seja frágil.

"A próxima fase das conversações de Genebra (é) crucial" porque "incidirá sobre a transição política, a governança e os princípios constitucionais", acrescentou.

O Conselho de Segurança da ONU também deve ouvir nesta terça-feira em sessão fechada um relatório do emissário sobre as negociações.